O papa, as mulheres e a falta de um líder católico no Brasil

Atualizado em 2 de outubro de 2014 às 16:52

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O papa Francisco está transformando a igreja católica. Teve uma passagem bem sucedida pelo Brasil. Deixou uma marca. Mas não deixou uma liderança à sua altura por aqui. Por quê?

Em uma longa entrevista para o jornal jesuíta La Civiltà Cattolica, Bergoglio falou da obsessão com aborto e contracepção. “O ensinamento da igreja quanto a isso é claro, e eu sou um filho da igreja, mas não é necessário falar sobre esses assuntos o tempo inteiro”, afirmou. Disse que nunca foi de direita.

Falou de homossexualidade. “Quando estava em Buenos Aires, recebi cartas de pessoas homossexuais que estavam ‘socialmente feridas’ porque me diziam que a Igreja sempre os tinha rejeitado. Mas essa não é a intenção da Igreja. No avião de regresso do Rio de Janeiro, disse: ‘Se um gay procurar Deus, quem sou eu para o julgar.”

Abordou a arrogância de pessoas que doam dinheiro aos pobres. “Alguns se arrumam para dar dinheiro aos pobres e enchem a boca para dizer que fizeram isso; outros exploram os pobres por interesse próprio ou daqueles de seu grupo”.

Defendeu também uma participação maior das mulheres na instituição. “A igreja não pode ser ela mesma sem a mulher. É necessário ampliar os espaços de uma presença feminina mais incisiva na Igreja. O gênio feminino é necessário nos lugares em que se tomam as decisões importantes”.

Francisco é um revolucionário, um reformista. Ficará para a história como um dos líderes políticos mais importantes de seu tempo. Sua modernidade reside na coragem de falar de temas complexos e tabus.

Mas é curioso como a igreja brasileira parece desvinculada de sua mensagem. Os padres pop do Brasil — porque Francisco é pop —  são o oposto. Marcelo Rossi, Fábio de Melo e Reginaldo Manzotti são um monumento à vaidade com suas faces botocadas, seus CDs e seus livros de auto-ajuda picareta. Todos são amigos da Xuxa, da Ivete Sangalo. Todos saem na Caras e na Contigo.

Em tese, deveriam servir como uma resposta à ascensão do pentecostalismo e da teologia da prosperidade. Marco Feliciano, Silas Malafaia e congêneres são ruins, mas o pessoal da Renovação Carismática não é muito melhor. Chico vai ter de lidar com ele se quiser ver suas ideias triunfarem. Um bom começo é proibir a lipoaspiração. Não fica um.