O papel da ascensão dos mais pobres no ódio de juízes e procuradores a Lula. Por Geraldo Seabra

Atualizado em 3 de setembro de 2018 às 11:07
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Foto: Nelson Almeida/AFP)

O cancelamento do registro da candidatura de Lula se deve ao aliciamento da casta de servidores públicos representada por procuradores da República, juízes, desembargadores e ministros das cortes superiores de ju$tiça – que ganham em um mês o que um trabalhador de salário mínimo precisa esperar cinco anos para receber – pelos setores mais conservadores da sociedade que não suportavam a ascensão social das camadas mais pobres da população promovida pelos governos petistas.

Essas conquistas sociais alimentaram o ódio ao PT , que começou a se cristalizar quando o primeiro governo Lula melhorou a qualidade de vida das camadas mais pobres da população com o aumento do salário mínimo, que equivalia a 70 dólares nos governos tucanos de Fernando Henrique Cardoso, foi a 293 dólares sob Lula e atingiu 348 dólares em dezembro de 2012, no primeiro governo de Dilma.

Essa valorização do trabalho implicou na ascensão social das parcelas mais pobres da população e levou o senador Aécio Neves (PSDB), que seria derrotado na eleição presidencial de 2014, a tramar a derrubada de Dilma já a partir de 2013, quando patrocinou junto com os industriais da FIESP as manifestações de rua do MBL (Movimento Brasil Livre) que desembocaria no impeachment da presidenta, na metade do seu segundo governo.

À valorização do trabalho somaram-se nos governos do PT outras conquistas sociais, muito próximas às reformas de base que o presidente João Goulart tentava implantar no País quando foi derrubado pelos militares no golpe de 1964 para estabelecer a mais sanguinária ditadura da história do Brasil, que duraria até 1985 e representou o maior retrocesso em nosso processo civilizatório.

A reforma agrária de Jango interrompida pelos militares foi realizada em grande escala pelos governos do PT, que ofereceu aos pequenos agricultores, além de terra, crédito e assistência técnica, um programa de comercialização das safras da agricultura familiar que garantia o escoamento da produção de alimentos a preços justos.

O financiamento da agricultura familiar, que nos governos do PSDB de Fernando Henrique somaram R$ 6,6 bilhões, foram multiplicados quase cinco vezes nos governos do PT de Lula e Dilma, chegando a R$ 28,9 bilhões na safra 2015/2016.

Esse aumento da participação da agricultura familiar no financiamento agrícola fez crescer e acirrou contra o PT os ânimos da bancada ruralista no Congresso Nacional, defensora dos interesses dos grandes proprietários e do agronegócio.

Na atual campanha presidencial, a bancada ruralista é representada pela vice do candidato Geraldo Alckmin (PSDB-Centrão), a senadora Ana Amélia (PP-RS).

Acresça-se às conquistas o Bolsa Família – programa que retirou o Brasil do Mapa da Fome, alimentando cerca de 30 milhões de brasileiros que quando Lula chegou ao poder viviam abaixo da linha da miséria – o acesso à universidade de pobres e negros, as cotas raciais para igualar oportunidades no serviço público, do apoio às minorias LGBT a oferta de melhor atendimento de saúde às populações mais carentes, com a criação do SAMU e a contratação de milhares de médicos cubanos para levar assistência médica onde os médicos brasileiros se negam a ir, e o fim do regime de escravidão das empregadas domésticas com a assinatura da carteira, direitos trabalhistas e oferta de creches e transporte escolar aos seus filhos.

Essas conquistas sociais foram aborrecendo cada vez mais aquela parcela mais rica de brasileiros, de um por cento ou menos da população, engordada pela casta de procuradores e magistrados com seus altos salários.

Lugar nessa casta começa a ser reivindicado por delegados da Polícia Federal, que voltaram a perseguir professores universitários saudosos da ditadura militar quando tinham a função de linha auxiliar dos órgãos da repressão e da tortura.

Todo esse ápice da nossa pirâmide social não suportava mais ver os filhos de seus empregados dividir com os seus os bancos das universidades, ou eles mesmos, com seus empregados, as poltronas dos aviões de carreira.

Formou-se das conquistas sociais da população mais pobre do País o caldo de cultura propício ao golpe que tirou Dilma e levou o PSDB a colocar Temer na chefia a nação e participar do seu governo com quatro ministros.

Um golpe escandalosamente confirmado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, mas que precisava ir além, para evitar a volta de Lula anunciada pela reação popular à derrubada de Dilma.

Arranjou-se, como os militares fizeram com Juscelino Kubitschek, um tríplex para Lula, convocou-se um juiz para condená-lo e um “colegiado” de segunda instância para confirmar a farsa judiciária, para enquadra Lula na Lei de Ficha Limpa

Por fim, os tribunais superiores, dos quais por um fator de economia a Ju$tiça brasileira já pode prescindir, comprovaram sua participação no golpe com a confirmação do impedimento de Lula.

Agiram não apenas como o bando de covardes definido pelo ex-presidente, mas destilando ódio sobre as conquistas sociais dos mais pobres, que ameaçam, lá adiante, concorrer no mercado de trabalho em pé de igualdade com seus filhos.