O papel da mídia e da direita indigente na obsessão pela Venezuela do brasileiro que estava preso em Caracas

Atualizado em 7 de janeiro de 2018 às 19:21
Jonatan Diniz

Eis que o gaúcho Jonatan Moisés Diniz, 31 anos, preso em 27 de dezembro na Venezuela, foi libertado no sábado, dia 6.

Seu destino é Miami. Jonatan estava detido na sede do Sebin, o Serviço Bolivariano de Inteligência, em Caracas, acusado de pertencer a uma organização criminosa chamada Time to change the earth com outras três pessoas.

O governo brasileiro argumentou com o governo de Maduro que o rapaz não tinha atuação política. De acordo com sua família, ele estava distribuindo brinquedos às crianças.

O chanceler Aloysio Nunes escreveu no Twitter que o “incidente foi encerrado com sua expulsão da Venezuela”.

Ao longo desses dias, a direita brasileira, especialmente a mais indigente, transformou Jonatan num mártir da ditadura — com o auxílio luxuoso da burrice autoritária da polícia de Maduro, para a qual ele estava metido em “atividades desestabilizadoras”.

Jonatan, conta sua mãe, foi em cana porque confundido com um americano. Dona Renata pagou a passagem de avião de “Pity” (o apelido dele) de Los Angeles para a capital venezuelana porque “ele estava com pouco dinheiro”.

Ela queria ajudá-lo a realizar o sonho de ir para o país, onde passaria 33 dias. Apesar do belo presente para o filhote, ela garante que ele é “independente financeiramente” e tem um “espírito livre”. Tá legal.

Livre, mas decididamente não muito brilhante. O Facebook de Jonatan é repleto de baboseiras de auto ajuda (“Lembrem-se… JESUS CRISTO NÃO ERA CATÓLICO NEM EVANGÉLICO NEM DE NEHUMA RELIGIÃO”) e apelos dramáticos malucos (“SEJAM HUMANOS UMA VEZ NA VIDA C-A-R-A-L-H-O!!!”).

Muitas fotos de viagens. Nenhuma profissão aparente. No Instagram, ele contou que passou “anos sendo levado para hospícios a força e recebendo quantidade de drogas insuportáveis, foram anos sendo exposto como bipolar, ezquifrenico e louco por toda a sociedade”.

Jonatan abusa de todos os clichês possíveis sobre a Venezuela. “Esse regime ditador logo pode chegar ao nosso país se nós brazucas não tentarmos ajudar nossos irmão latinos a cortar o mau (sic) pela raíz (sic)!”, postou.

Por que não dedicar essa energia aos pequenos brasileiros que sentem fome e precisam de bonecas, bolas e bicicletas?

Porque Jonatan foi submetido à dieta mental extremista que transformou a Venezuela na razão de vida dos analfabetos políticos. Ele foi fazer in loco o que Kim Kataguiri faz do Copan.

O noticiário é incessante. Quando os doentes do MBL não estão xingando Lula, se dedicam a descrever a hecatombe comunista venezuelana. Janaína Paschoal chegou a cravar que Putin invadiria o Brasil a partir do vizinho.

“Lula e Dilma deveriam ser julgados por terem criado Maduro! Eles são responsáveis pelo que ocorre na Venezuela!”, perpetrou nas redes sociais.

“Como eu temia, Jonatan está na Tumba! A Tumba, onde são torturados os presos políticos, foi fundamento central de nossa denúncia contra Maduro ao TPI!”, afirmou ela, exclamando incessantemente em sua cavalgada.

O intelectual Alexandre Frota sugeriu uma vingança: “Dar uma resposta aqui mesmo do Brasil com o primeiro Venezuelano que encotrarmos (sic)”.

Jonatan não é um mártir. Daqui a pouco mamãe lhe manda mais uma grana. Se tiver que pedir indenização a alguém, que seja à mídia, especialmente à Globo, e a esse bando de oportunistas que transformam inocentes úteis em obcecados com os problemas alheios.

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Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.