O paraíso e o maior jogador de futebol de todos os tempos. Por Walter Falceta Jr.

Atualizado em 26 de novembro de 2020 às 7:34
Maradona e Sócrates na Copa de 1986

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO FACEBOOK DO AUTOR

Com todo respeito a Pelé, mas Maradona foi MAIOR, dentro e fora de campo. Não se contam gols, mas carisma, magia e capacidade de fazer a diferença.

Pelé foi maravilhoso em campo (péssimo fora dele), mas sempre auxiliado por uma linha espetacular do Santos Futebol Clube.

Deram-lhe apoio Zito, Dorval, Mengálvio, Pepe e Coutinho. Lamento os santistas que valorizam menos esses monstros sagrados para sacralizar em excesso o ótimo Edson.

Maradona, índio, proletário, baixa estatura, rebelde desde criança, superou inúmeros e imensos obstáculos para se tornar a maior expressão mundial do ludopédio.

Começa no querido Argentino Juniors, surgido em Villa Crespo, da fusão do Sol de la Victoria com o Mártires de Chicago, esquadra operária de viés anarquista.

O clube sempre foi um celeiro de craques, na bola e na vida. Foi sempre o lugar onde a consciência política encontrou a glória lúdica do futebol.

Maradona, de rebelde, evoluiu a revolucionário, aprendendo que craque é sempre polivalente e atua onde a equipe lho necessita.

Tinha a biologia do talento, disruptiva, impossível de ser explicada pelas leis newtonianas. O giro rápido, o drible sobre si mesmo, a visão de jogo em 360 graus, a expressão solidária de ocupar o espaço e cobrir sem alarde a falha do companheiro.

Por isso, Maradona é maior. Porque jogava por todo o time. Era ao mesmo tempo o atacante, o meia, o volante e, não raro, dava bicudas na grande área.

Somente o maior de todos os tempos faria a diferença no bom Napoli, mas ainda assim modesto em relação a outras equipes do calcio.

Somente o maior para garantir o triunfo máximo da Argentina, para oferecer solução a um time graúdo, competente, mas também limitado.

Maradona era um Garrincha deles, com inteligência tática incomparável, e a sabedoria elegante de seu ídolo e inspirador, Roberto Rivellino.

Fora de campo, Maradona era a explosão de humores, o erro, o acerto, o erro, mas muitos outros acertos. Na pele, tatuados o compatriota Che e o amigo Fidel.

Louco da vida com os imprensaleiros de má índole, soube tratá-los do modo que mereciam. E conosco, os éticos da profissão, foi atencioso e educado.

Ao mesmo tempo, foi um campeão das causas sociais. Solidário, amigo, chorava diante de um cidadão em situação de rua ou diante de uma criança enferma.

Maradona foi Chavez, Lula e Dilma, a palavra corajosa de apoio em favor da democracia e da justiça social.

Maradona, brincalhão, sincero, divertido, não fará falta ao mundo do futebol. Fará falta a este mundo falso, infectado e fascistizado.

A mão de Deus o chamou. Erguido aos céus, senta-se agora no trono das almas pias (e também imperfeitas), ao lado do outro mais maravilhoso amante da bola, Sócrates Brasileiro.

Amantes da sedição, jamais darão sossego a São Pedro.

Arregimentarão querubins e serafins para montar loucas esquadras celestes. O anjo das pernas tortas já se escalou…

Se aqui nos rola uma lágrima, a torcida do paraíso se agita, alucinada e exultante.