Por Tiago Barbosa
O BBB 21 tem saciado boa parte de uma ânsia coletiva de exorcizar injustiças da convivência expressadas em atos mesquinhos, desfaçatez e opressões covardes do dia a dia.
A formação de paredão e a expulsão dos participantes se tornam ato contínuo dessa vontade de cortar do entorno quem envenena um ambiente já intoxicado, hoje, por notícias tristes, medos e perdas bruscas da pandemia.
As unanimidades explicam, em parte, o desejo imediato e urgente de expurgar, afastar e punir quem faz da interação um espaço de violência.
Foi assim com Nego Di, deve ser assim com Karol Conká – ambos repelidos pelos maus-tratos com Lucas, o elo frágil de um conjunto sem equilíbrio.
A cantora, em especial, é ainda mais rejeitada porque se vestiu de bússola moral enquanto destilava mentiras, arrogância, falsidades e desrespeitava os colegas – um atestado de hipocrisia diante do discurso fora da casa.
É só um jogo, dizem os mais céticos.
Mas os comportamentos lá dentro não deixam de metaforizar uma sociedade guiada pela fama, escrava da exposição pública e condicionada por interesses particulares (no programa, o dinheiro).
Existem a direção, a edição maliciosa da Globo e aspectos desconhecidos dos bastidores – mas é impossível não captar como real e se indignar com quem se arvora a agredir, maltratar e ferir os interlocutores mesmo nesse cenário (des)controlado.
Ambientes de pressão bagunçam e desnudam traços de caráter, e sob o BBB Karol Conká revelou uma postura vil e falsa – algo ainda mais perturbador por ela ser uma pessoa pública acostumada a lidar com os outros.
Seria excelente, aliás, se esse alinhamento contra uma conduta repulsiva se replicasse em um ambiente real lamentavelmente tóxico e desgovernado, onde o protagonista mente, debocha, envenena e até assassina – com omissão, crueldade e cloroquina.
O tombo que o Brasil realmente merece.