O partido da família Bolsonaro já nasceu quebrado. Por Moisés Mendes

Atualizado em 21 de julho de 2020 às 10:26
Painel escrito Aliança pelo Brasil formado por cartuchos de bala feito por Rodrigo Camacho.
Foto: Reprodução/Twitter

Tentam medir o que seria a base política e social de Bolsonaro com pesquisas imprecisas e estimativas precárias. O fracasso do projeto do partido da família oferece uma medida concreta.

O Brasil tem hoje 33 partidos. Ninguém sabe dizer quase nada da maioria, de onde cada um saiu, o que representa, qual é seu programa, quem são seus líderes.

Talvez saibam alguma coisa de uma meia dúzia, não mais do que isso, porque a maioria existe apenas como negócio. Mas o certo é que temos 33 partidos registrados.

E Bolsonaro não consegue registrar o seu. A família sonha com um partido só dela para poder gerir o fundo milionário sem o incômodo de repartir dinheiro com os laranjas do falecido Gustavo Bebianno.

Mas não conseguiram nada até agora. Levaram recrutadores de assinaturas para esquinas, quermesses, shoppings, feiras, cartórios, casamentos, igrejas e cemitérios e fracassaram.

Até a semana passada, segundo levantamento da Folha, o Aliança de Bolsonaro tinha apenas 15.721 assinaturas confirmadas. E precisa de no mínimo 492 mil assinaturas, por exigência da legislação eleitoral. Obteve 3,2% do que é necessário.

Muitos palpiteiros medianos têm mais seguidores nas redes sociais do que o partido da família Bolsonaro. A lista de assinaturas de aliancistas (ou seriam alianceiros?) tem mortos, tem gente que não existe, tem filiados a outros partidos.

Um manifesto contra ou a favor de qualquer coisa, atirado na internet, consegue mais assinaturas em uma semana do que o partido da extrema direita idealizado pela família em oito meses.

Há 77 partidos em formação no Brasil. Podemos ter, daqui a pouco, cem partidos, dos futebolistas, dos ciclistas, dos caçadores, dos carecas. E o partido dos Bolsonaros talvez não esteja entre os que forem criados.

O Aliança pelo Brasil deve ser o único, entre todas as propostas de partido, que nasce do projeto pessoal de uma família. Está no plano de ampliação dos poderes de um pai e três filhos.

Os Bolsonaros disputam a fidelização de uma parte de 148 milhões de eleitores. Se essa porção fosse de 15% de bolsonaristas mesmo, como dizem as pesquisas, e não de eventuais apoiadores, eles teriam potencialmente um mercado de pelo menos 22 milhões de filiados.

Se apenas 10% desses 22 milhões de bolsonaristas se dispusessem a aderir a uma filiação, para viabilizar o partido da família, seriam 2,2 milhões de eleitores. Mas eles conseguiram míseras 15.721 assinaturas.

O PT, que a direita, em conluio com notícias da grande imprensa, chegou a considerar sob ameaça de extinção, tem 1,5 milhão de filiados. É dado oficial do site do TSE.

O partido de Bolsonaro não consegue a assinatura de compromisso de adesão porque a maioria dos simpatizantes desconfia que esse é apenas mais um negócio da família.

Os Bolsonaros têm fortuna imobiliária, têm poder, votos e vínculos com milícias que atuam como empresas, mas não têm um partido e talvez não consigam ter. É provável que continuem sendo predadores dos partidos dos outros, como Bolsonaro foi do PSL de Bebianno.

Reafirma-se, com o fracasso do partido de Bolsonaro, a suspeita de que o sujeito é apenas uma gambiarra da direita. Bolsonaro cumpriu uma tarefa, dando colo aos tucanos sem rumo e ao antipetismo doentio, mas não tem a base eleitoral e social que muitos pensaram que um dia teria.

Se fosse um fenômeno de massa a ser levado a sério, mesmo que ainda em formação, Bolsonaro não estaria preocupado agora com a criação de um partido que ninguém quer.

Bolsonaro vai para a eleição municipal sem seu negócio próprio porque o bolsonarista oportunista é, em maioria, alguém que não deseja ter vínculos duradouros com a família.

Os Bolsonaros sabem que cumpriram uma empreitada provisória. O Aliança é um negócio que a família conseguiu quebrar antes de abrir.