O passo seguinte da destruição da Amazônia por Bolsonaro é o conflito com a igreja, afrontando o Papa Francisco. Por Adriano Diogo

Atualizado em 25 de agosto de 2019 às 8:02
Papa Francisco cumprimenta o cacique Raoni

Reconhecemos que a sequência de queimadas nas últimas semanas em várias regiões do Brasil, sobretudo na área da Amazônia Legal, tem sido bastante divulgada por meios de comunicação daqui e do exterior.

Cabe, assim, questionarmos os motivos desse imenso desastre ambiental e humano.

Para entender as razões do desmatamento, e das consequentes queimadas, vale uma breve retrospectiva histórica de alguns fatos.

A ideia de ocupação militar na Amazônia vem desde a era Vargas.

Por conta dessa obsessão construíram a Rodovia Mamoré, causando a morte de centenas de pessoas em situações precárias de trabalho.

Com a ditadura militar, voltou o delírio de ocupação do território.

Construíram a transamazônica e as consequências foram sentidas pela tragédia humana e ambiental sem precedentes. O uso de bombardeio com Napalm ultrapassou todos os limites do marco civilizatório.

Outras tentativas fracassadas de ocupação propunham a migração para a formação das agrovilas. Também se pensou em colocar bois na região, por meio de desmate e do maior incêndio já visto. Eram terras do proprietário da Wolks, Wolfgang Sauer. Foi registrado via satélite essa enorme devastação.

Merece ser lembrada com repúdio a figura premiada de Sebastião Curió pelo seu condenável trabalho.

Com a descoberta e exploração da Serra Pelada e Serra dos Carajás, se tornou o maior garimpeiro da região. Milhares de vidas foram perdidas. Curió foi responsável por destruir a Guerrilha do Araguaia e seus integrantes. Todos mortos com crueldade.

Bolsonaro reeditou o programa do governo militar de ocupação criminosa da Amazônia.

Propôs o fim da demarcação das terras indígenas e quilombolas e aculturação dessas comunidades. Um desrespeito às nossas raízes históricas.

Faz parte do plano de Bolsonaro a liberdade sem limites para exploração mineral, do agronegócio, fim do código florestal e discordância com o Sinôdo do Amazonas, abrindo guerra direta com a igreja católica, afrontando o Papa Francisco.

Por fim, a demissão de uma grande autoridade do setor ambiental, Dr. Ricardo Galvão, responsável pelo Inpe. Foi acusado de traição por divulgar dados gerados pelos satélites.

Por que temer a verdade?

De outro lado, Bolsonaro acusou as ONGs sem provas pela criminosa devastação que culminou com incêndios que repercutiram em nível global. Não faz sentido, não é honesto culpar essas organizações. Elas cuidam do meio ambiente há muitos anos.

Diante de tantos absurdos, o fato causou enorme comoção nacional e internacional e especialmente revolta da comunidade científica.

Se os militares não consideram a Amazônia o pulmão da humanidade, que a considerem o cérebro e o ponto de equilíbrio para uma existência do planeta.

Adriano Diogo é ex-deputado e ex-presidente da Comissão da Verdade Rubens Paiva