
Em Goiânia, um pastor voltou aos holofotes após ser flagrado — pela terceira vez — desfilando pelas ruas de peruca loira e calcinha fio-dental. Eduardo Costa, líder religioso e cantor gospel, confirmou que é o homem dos vídeos que viralizaram nas redes sociais. Em pronunciamento ao lado da esposa, disse que tudo faz parte de uma “investigação pessoal”, alegando ainda ter sofrido tentativa de extorsão.
A explicação pode soar estranha, mas pelo menos é inofensiva. Eduardo não pediu voto para Bolsonaro, não participou de gabinete do ódio, não usou o altar para espalhar fake news, nem ameaçou instituições democráticas.
Sua maior “transgressão” foi andar pelas ruas usando roupas femininas à guisa de fazer “investigações” — escolha que, no máximo, provoca risadas e memes.
Agora, compare a Silas Malafaia. Enquanto um pastor explica por que estava de calcinha, o outro tenta justificar por que está na mira da Polícia Federal. Malafaia foi alvo de busca e apreensão por suspeita de coação e obstrução de investigação. Segundo a decisão do STF, ele teria atuado junto a Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro para pressionar o Supremo, influenciar processos e articular anistia por meio de uma campanha de desinformação. Não é a primeira vez que o histérico carioca usa seu púlpito para defender interesses políticos — e, quase sempre, contra o espírito democrático que ele finge proteger.
Quem envergonha mais a fé que diz professar? O homem que sai às ruas vestido de mulher ou o líder que usa a Bíblia como escudo para práticas que nada têm de cristãs? Quem ofende a moral? A calcinha fio-dental ou a tentativa de manipular investigações e chantagear as instituições do país?
No fundo, a piada do “pastor de calcinha” expõe algo sério: escândalos sexuais viram memes; escândalos de poder ameaçam a democracia. E, nessa disputa, é difícil não concluir que o personagem de Goiânia é muito mais decente do que Malafaia.