“O pastor me chamou de abortista por reclamar de sua defesa de Bolsonaro”: o relato de uma evangélica ao DCM

Atualizado em 22 de setembro de 2020 às 17:27
O pastor Sérgio Queiroz e a chefe Damares Alves

Uma espectadora do DCMTV nos enviou seu relato sobre a vida como evangélica e o desentendimento com seu ex-pastor Sérgio Queiroz, que foi trabalhar com Damares Alves:

Não pense que ele é um idiota qualquer. É procurador da fazenda nacional concursado. Sérgio tem um ótimo currículo e excelente oratória.

É presidente da Fundação Cidade Viva e pastor da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, cujo líder é Estevam Fernandes.

Estevam fez campanha para Bolsonaro de uma forma tal que estava respondendo ao Ministério Público. Damares Alves fazia muita palestra lá.

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Fui dessa igreja por mais de 10 anos e nunca tinha notado que era um criadouro de fascistas, até que Sérgio usou o púlpito para defender os pastores que estavam postando apoio a Bolsonaro em suas redes sociais.

Isso numa igreja com mais de 1500 pessoas. Eu estava lá e vi. Deu nojo! Em seguida, postou um foto abraçado com Bolsonaro no hospital.

Eu disse a ele que lamentava, e ele insinuou que eu era “abortista e corrupta”.

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Na Bíblia, o pastor deixa o rebanho para ir atrás da ovelha que se perdeu. Ele nunca mais falou comigo e eu espero que nunca mais fale. 

Depois vi que a coisa toda já estava rolando nos bastidores porque, assim que Bolsonaro se elegeu, ele passou a fazer parte da equipe de transição para depois ser da Secretaria Especial de Desenvolvimento Social de Damares.

Desconfio que ele escrevia os discursos dela. Essa gente é perigosa, toda esse teia de fake news sobre gays e mamadeiras e falsos estupros é criação desse pessoal.

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Na época da facada em Bolsonaro, as piores mentiras que recebi vinham justamente dos “irmãos”, o que me convenceu que a fábrica estava lá.

Vinte e seis anos de igreja evangélica, dez anos com esse pastor, 99% dos fieis votaram em Bolsonaro e engolem esse discurso de que ele é o mito que veio salvar o Brasil.

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Em 2018 eu ia viajar e precisava comprar dólares perguntei quem tinha e — bingo! Dois pastores de igrejas pequenas daqui tinham dólares pra vender em plena época de eleição.

Não é no mínimo curioso?? Não posso dizer que era lavagem pois não tenho provas mas é um indício, convenhamos. O que pastores de igrejas pequenas faziam com milhares de dólares?

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Não adianta a esquerda se aproximar dessa gente, votando a favor de projetos da bancada da Bíblia, porque a massa segue o pastor de olhos fechados. Há pastores sérios, mas não têm voz.

Hoje essas igrejas funcionam como franquias. Fast foods da fé que ocuparam o lugar dos partidos de esquerda e dos sindicatos e movimentos sociais.

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Atuam através de células (tem de casais, de jovens, de mulheres, de homens). Elas são como um sistema de multiplicação, em que as pessoas, depois que participam, passam a ser líderes de de suas próprias células e criam outras.

Eu estava nesse caminho. Achava que o propósito era evangelizar, mas é trazer pessoas para as igrejas como membros que se tornarão parte do curral.

Deus existe, mas não está lá — está conosco.