O “perdido” de Alckmin. Por Fernando Brito

Atualizado em 13 de agosto de 2018 às 19:21
Alckmin

Publicado originalmente no Tijolaço

POR FERNANDO BRITO, jornalista e editor do blog Tijolaço

Levar um perdido,  gíria do pessoal mais novo. parece ser cada vez mais a descrição da situação de Geraldo Alckmin com a parcela mais xucra do empresariado brasileiro – que, há 40 anos, vem num processo de decadência atroz, trocando os “capitães de indústria” por capitães do mato – quando se lê a descrição do encontro entre 62 endinheirados com Jair Bolsonaro, narrada por Igor Gielow, na Folha.

O candidato a presidente Jair Bolsonaro iniciou uma ofensiva de busca por apoio entre o PIB brasileiro em café da manhã conduzido de forma quase secreta com 62 empresários paulistas, na sexta-feira (…).A aproximação do deputado dos donos do dinheiro, francamente favoráveis a Alckmin, vinha ocorrendo principalmente por meio de eventos no mercado financeiro –muito mais receptivos a Bolsonaro pela presença de [Paulo] Guedes [ seu ‘guru” econômico], que fala a língua do meio, em seu time.

Ficou evidente que há uma migração para o candidato da extrema-direita que, por enquanto, ainda não se expressa com tanta nitidez nos grandes conglomerados financeiros que são, de fato, os “donos do Brasil”.

Mas é fato que corre, cada vez mais sem pudores, a opção pelo candidato da extrema-direita na geração de herdeiros e aventureiros que têm Miami como Meca e a ostentação material – a única que pode ter, pois intelectualmente são de uma pobreza constrangedora – como expressão do Éden.

Não são os reis, mas são a subnobreza brasileira, mais propensa a decorar suas paredes com Romero Britto que com um Portinari, mais perto do “Rei do Camarote” que de um Walter Moreira Salles, mais chegada a uma farra do guardanapo do que a uma visita ao Louvre quando está em Paris…

Essa turma, que levou seu séquito mental à Avenida Paulista parece ter mesmo “dado um perdido” no candidato do PSDB que, ademais, com o seu temperamento conservador, não está “causando” na corrida sucessória.

Não que se tenha tomado de amores pelo ex-capitão, porque esta turma não é de amores mas de “agregar valor” e pode “deixá-lo na pista” se Alckmin conseguir alguns colares e pulseiras brilhantes com seu casamento com o centrão.

Mas que Bolsonaro lhes corresponde, depois de todas as cenas que fez, jurando que não está interessado em seu dinheiro, mas em seu amor sincero, isso é um fato.

“O que mais impressionou foi quando perguntamos como poderíamos ajudar com a campanha”, relatou Bomfim [dono da. É rede de lojas Centauro, que não se perca pela marca]. “Ele disse: Não quero doação, se vocês puderem gastar sola de sapato para divulgar meu nome, ótimo.”

Escolhem candidatos como que escolhe cães de guarda e, assim, pensam nas vantagens de um dobbermann, esquecidos talvez que estes pobres animais, por uma falha mental, tornam-se mais donos da casa do que eles e, não raro, o amor canino vira mordida.

PS: Na frase final do texto, o repórter diz que a ofensiva de Bolsonaro sobre os empresários ocorre “justamente no momento em que o tucano recupera espaço em seu quintal político segundo pesquisas.” É? Em que pesquisas isso acontece? Como isso não ocorre nas que foram divulgadas, só se for nas que estão encomendadas…