O peso da homofobia nos ataques bolsonaristas a Glenn Greenwald. Por Mariana Migoto

Atualizado em 3 de julho de 2019 às 17:46
David Miranda, Glenn Greenwald e seus filhos. Foto: Divulgação/Twitter

POR MARIANA MIGOTO

Quando Glenn Greenwald, editor do Intercept Brasil, começou a publicar a série de reportagens da Vaza Jato, já se sabia que vinha chumbo grosso pela frente. 

O que poucos devem ter pensado na época é que os ataques não mirariam apenas no seu trabalho, mas também em sua sexualidade e sua família.

Glenn, que é formado em direito e ficou mundialmente famoso após publicar o caso Snowden, expondo os segredos obscuros dos Estados Unidos (que lhe rendeu um Pulitzer), é também homossexual. 

Em 2005 conheceu o hoje deputado federal David Miranda e estão juntos desde então.

Os políticos e apoiadores do governo Bolsonaro, no entanto, só conseguem enxergar que o jornalista americano não teria uma “família legítima”. 

Numa audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, à qual o jornalista foi convidado, deputados governistas faziam questão de taxar David pejorativamente de “parceiro sexual”, “namorado” etc. 

A escolha de termos não foi acidental. 

Trata-se de deputados que muitas vezes já surfaram no fundamentalismo religioso para agradar seu eleitorado. Eles se negam a reconhecer a legitimidade do casamento igualitário que foi garantido pelo Supremo Tribunal Federal.

Um ataque sem pudores como esse, tendo como alvo um convidado na Câmara dos Deputados – a casa do povo – já soa absurdo e é um insulto para a democracia. 

Algo semelhante ocorrer na Comissão de Direito Humanos e Minorias é uma violência simbólica contra as instituições.

Na verdade, nem é de se admirar. 

Bolsonaro foi premiado com a presidência após fazer e dizer todo o tipo de absurdos contra pobres, nordestinos, negros, LGBTs, mulheres… 

Para os eleitores, ele sempre alegou que os vídeos em que ele aparece fazendo essas declarações não passavam de edições e perseguição da “mídia petista”. 

Mas seus colegas parlamentares aprenderam bem com ele e aprenderam que podem sair impunes disso.

Longe desse tipo de comportamento de Bolsonaro ser coisa do passado, Bolsonaro destilou comentários homofóbicos em aparição pública. 

Dá vazão a fake news conspiratórias de que Glenn teria pago um hacker para invadir os celulares dos procuradores da Lava Jato. Isso tudo, fora a acusação de venda de mandato.

Aproveitou para se referir a Jean Wyllys como “menina”. Como já dizem pelas redes sociais, a quinta série assumiu o poder. 

Além da falta de decoro e postura de Bolsonaro, isso revela o conceito que tem sobre as mulheres. Não que seja uma surpresa — afinal de contas, antes de se eleger presidente já declarou em rede de televisão que sua filha era uma “fraquejada”.

A única verdade que conseguem destacar sobre Glenn, David e Jean é o fato de serem homossexuais. E, assim, a única forma que conseguem criticá-los é através da homofobia.

É por isso que, a única conclusão a que podemos chegar é de que se os governistas não apelarem ao ódio puro e simples ou inventarem qualquer bobagem, eles ficam sem ter o que falar.