O pior papel da carreira de Maitê Proença. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 13 de novembro de 2018 às 21:10
Maitê Proença. Foto: Reprodução/YouTube

O vídeo viral da temporada pode ser visto como um curta-metragem de terror ou uma comédia escrachada, a depender do otimismo de quem assiste.

Trata-se de Maitê Proença (linda, loira, pensionista do papai e possível futura Ministra do Meio Ambiente) afirmando em frente a uma câmera que “o homem comum abriu mão dos direitos humanos pra ter comida na mesa.

Hein?

A primeira questão que me ocorre é: o que ela chama de “homem comum”? Nós, os mortais, que não somos filhos de desembargadores e não recebemos suas gordas pensões?

Eu não me lembro de ter abdicado de direito nenhum – qual era mesmo o lema? Nenhum direito a menos? -, mesmo porque direitos humanos são irrenunciáveis.

Ao menos na teoria, você não pode simplesmente abrir mão dos seus direitos trabalhistas e de ser poupado de punições degradantes, por exemplo. Os direitos humanos são inerentes a todo humano, quer ele queira, quer não.

Na prática, a teoria é outra: os brasileiros mais masoquistas votam em Jair Bolsonaro, um jeito fácil de renunciar seus direitos humanos sem fazê-lo propriamente – não fui em quem disse, foi a própria Maitê Proença.

No vídeo, ela diz outras sandices como “nós temos Instituições fortes” – “com o STF, com tudo”: sim, claro, fortíssimas, – e “nunca antes na história do Brasil (um plágio óbvio demais) se fez uma campanha pautada na verdade!”

O pior papel da carreira de Maitê Proença – não que se deva esperar muito dela… – é participar deste governo que decerto entrará para a história com um dos mais desastrosos do Brasil, e defender uma figura que representa valores tão distantes do significado de ser artista de fato.

A esquizofrenia das excrescências ditas por Maitê me dá a impressão de que vivemos em Brasis diferentes – e vivemos mesmo, certamente: ela no Brasil das filhas solteiras pensionistas vitalícias de seus pais desembargadores, e eu no Brasil das que pegam ônibus cheio e comem PF.

Mas é ingenuidade pensar que esse papel esdrúxulo que Maitê interpreta agora na vida real é fruto de mera ignorância: assim com Regina Duarte, latifundiária e apoiadora de Bolsonaro, Maitê também não dá ponto sem nó.

Sua indicação para o Ministério do Meio Ambiente partiu de Paulo Marinho, seu ex-marido, empresário e amigo pessoal de Jair Bolsonaro – sua casa no Jardim Botânico foi até usada como locação de programas eleitorais do presidente eleito, e, como dizem por aí, não existe almoço grátis. A conta começou a chegar: um ministério para a ex e nós ainda não vimos nada.

A exemplo do próprio Jair Bolsonaro, que emprega a família tradicional inteira e mais uns agregados, Marinho também arranjou uma boquinha para o filho, André Marinho, tradutor de Jair Bolsonaro e bon vivant profissional.

Aos 24 anos, o youtuber de 13 mil inscritos (risos) é o típico meritocrata que se vangloria de suas conquistas profissionais nas redes sociais, mas foi tudo indicação do papai.

Ao que tudo indica, os ministérios serão ocupados só pelos grandes figurões de nossa extrema-direita trapalhona: Maitê Proença, Alexandre Frota e Sergio Moro são só o início desse show de horrores das pastas dos Ministérios brasileiros nos próximos quatro anos.

O ex-juiz que aceitou um Ministério do rival do homem que ele perseguiu, um ex-ator pornô regenerado e uma socialite pseudoatriz: mais parece o elenco de participantes de A Fazenda.