O plano da Globo é transformar Marcelo Adnet em Didi Mocó — no mau sentido

Atualizado em 4 de agosto de 2013 às 17:11

O novo quadro do humorista será de paródias de velhos clipes lançados pelo “Fantástico”.

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Um bom programa de humor precisaria de um cordão de isolamento contra Zeca Camargo

Os Simpsons estão há 18 anos na Fox. O canal é do magnata da mídia Rupert Murdoch, seguramente uma das pessoas mais odiadas do mundo.

Murdoch já apareceu algumas vezes no seriado. Em cinco ocasiões, dublou seu personagem. Na primeira, ele é condenado por um crime não especificado e é obrigado a participar de um show de manobras aéreas. Murdoch se apresentava como o “bilionário tirano do mal”. Daí em diante, ele só apareceu assim — como um canalha. Groening diz que nunca mexeu numa linha dos roteiros.

Marcelo Adnet, um dos humoristas mais talentosos do Brasil, estreia no domingo (4), um quadro na Globo. Vai fazer paródias de vídeos musicais que fizeram sucesso no Fantástico.

É a terceira tentativa de emplacar. O Dentista Mascarado era muito ruim e os esquetes sobre a Copa das Confederações eram tenebrosos.

Adnet tem 31 anos. Topou a Globo porque viu ali uma oportunidade na carreira. Era a estrela da MTV, que foi sendo desmanchada pela Abril lentamente ao longo dos últimos cinco anos, até acabar num suspiro.

“Ninguém me impôs nada na emissora, eu que topei fazer os projetos, tive liberdade total para escolher”, diz Adnet. “Não me enquadrei em nenhuma estética da Globo”.

De prodígio da comédia, em programas caóticos e absurdos (e eventualmente equivocados, como a Casa dos Autistas), ele virou candidato a uma espécie de sub Chico Anysio ou Didi Mocó. Enquanto isso, o pessoal da Porta dos Fundos desfruta de prestígio e espaço na Internet. Estão também ganhando dinheiro.

Adnet não deve estar mentindo quando diz que ninguém lhe impôs nada. Não precisa. Os atores com quem ele contracena são os das novelas; os diretores são os que fazem velharias como Os Normais; o que faz sucesso é o Faustão. Tudo é o oposto de ser engraçado ou moderno.

Quando Matt Groening, inventor dos Simpsons, bate no dono da emissora, ele está fazendo uma declaração de independência. Ao contratá-lo, a Fox estava comprando um pacote que incluía isso.

Adnet pode se iludir à vontade, mas bastaria olhar em volta para ver que o panorama não favorece a inovação, a diferença e a crítica independente. As mesmas telenovelas, apenas pioradas, o Jornal Nacional, a Regina Casé, a Xuxa, a Ana Maria Braga, o Galvão, o Pedro Bial, o Zeca Camargo etc etc. A Globo é uma máquina de moer o diferente.

Os fãs de Marcelo Adnet podem ficar esperançosos, mas é difícil que algo de bom sobreviva a uma paródia de velhos clipes exibidos pelo Fantástico. Se era isso o que a Globo esperava dele, era melhor não ter aposentado Didi Mocó.