O poder da crença e o narcisismo na vida de Ernesto Araújo, o pior chanceler do mundo. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 30 de março de 2019 às 23:02
Ernesto Araújo e Hitler

Ecoando o youtuber Olavo de Carvalho, o chanceler Ernesto Araújo insiste que o nazismo era de esquerda, uma variação do regime socialista ou comunista.

Se ele assistir ao filme “Hitler – Uma Carreira”, de Joachim C. Fest e Christian Herrendoerfer, considerado o mais completo sobre a ascensão do líder do nazismo, verá que Hitler chegou ao poder com seus seguidores matando e encarcerando, primeiramente, os comunistas, depois os social-democratas e, por fim, os judeus, pessoas que ele odiava.

A referência ao ódio de Hitler à esquerda está aos 38 minutos e 24 segundos do documentário.

A questão estaria resolvida se o chanceler visse o vídeo ou lesse textos sobre a origem do nazismo.

O problema é que Ernesto Araújo não busca a razão. Ele se mostra não como um homem da ciência, mas da crença.

Em tempos de internet, está alinhado ao comportamento do público em geral: a razão não é nem um critério secundário.

Simplesmente, ela não é levada em conta.

O que importa é se a ideia expressa tem seguidores, compartilhamentos.

Dizer que o nazismo era de esquerda seria o mesmo que afirmar que a Terra é plana ou que a vacina não tem efeito. Não tem lógica, mas o que importa?

Milhões de pessoas se conectam através do YouTube ou do Facebook em torno dessas ideias. E um indivíduo reforça o outro, e juntos tendem a rejeitar qualquer argumento que lhes contrarie.

Afinal, partem do pressuposto de que há uma mão invisível que conspira para enganar a todos. Em que acreditar?

E geral, acreditam apenas naquele ou naquilo que confirma suas crenças.

Opiniões contrárias são de inimigos que precisam ser combatidos e até exterminados, a menos que passem a concordar eles.

Dizer que o nazismo e o fascismo são fenômenos de esquerda é fraude, apontam os especialistas do mundo todo.

Mas, para o chanceler não é, e daí?

Ele dá sinais de que não se incomoda, não se constrange. E reafirma o que disse em seu blog, que ele considera depositário da verdade absoluta.

Para ele, é como se historiadores não tivessem o mesmo peso que suas crenças.

O sociólogo Josep Lobera, em entrevista concedida ao El País sobre os “fenômenos pseudocientíficos”, teorizou sobre esse comportamento.

Ele disse que defender que a Terra é plana (e o nazismo é de esquerda) decorre de  um certo narcisismo.

Afinal, esta é a era da incerteza, e o que vale é a defesa da opinião própria acima de tudo e o desprezo pelos argumentos contrários.

Não bagunce a ordem que dei as coisas incertas, imaginam pessoas como Ernesto Araújo.

A ciência, que é o conhecimento provado, está à disposição dele, informações objetivas como as do documentário “Hitler – Uma Carreira” podem ser acessadas.

Mas Ernesto Araújo vai rejeitá-las.

Se fosse um colegial em busca de um lugar seguro no mundo incerto, não faria mal a ninguém mais do que a ele próprio. Mas, quando se trata de um chanceler, o caso é grave, e é um problema de Estado.

Ernesto Araújo não fala apenas por ele próprio, mas pelo Brasil. E orienta a equipe que tem sob sua responsabilidade negócios de Estado.

Se encara os complexos assuntos do mundo como um fanático, o Brasil terá grandes dificuldades pela frente.

Por isso, sem ressalvas, não é exagero considerá-lo o pior chanceler do mundo.