O policial que agrediu um menino autista que lhe ofereceu um abraço. Por Sacramento

Atualizado em 31 de dezembro de 2018 às 18:58
Vitória e Vila Velha, Espírito Santo. Foto: Wikimedia Commons

A intolerância da Era Bolsonaro já dá as caras antes mesmo da posse do líder de extrema-direita.

No Espírito Santo, um policial militar reagiu com truculência aos acenos de carinho de uma criança autista.

O fato ocorreu na tarde de domingo na Praia da Costa, ponto turístico conhecido e movimentado na cidade de Vila Velha, ao lado da capital Vitória.

A mãe do menino, Gabriela Santos da Silva, uma professora de 32 anos, entrou em contato comigo pelo Whatsapp e relatou o caso.

“Meu filho tem 9 anos, é do espectro autista e tem um comportamento carinhoso, adora abraçar e beijar as pessoas. Ele tem profundo carinho por policiais, guardas municipais e rodoviários do Transcol (sistema de ônibus da Grande Vitória). Já estão até acostumados com ele”.

De acordo com Gabriela, o menino, ao ver o policial, caminhou em sua direção com os braços abertos, com a intenção de dar um abraço, mas foi repreendido e empurrado pelo agente público.

“O policial agressor, ao ver meu filho se aproximar dele de braços abertos e sorrindo, gritou ‘Isso não pode não’ no momento em que meu filho colocou a mão no ombro dele, e após falar isso retirou a mão do meu filho com força e brutalidade, jogando para trás. Se eu não tivesse segurado meu filho, ele teria caído no chão. Após a agressão meu filho gritou e me perguntou se não pode abraçar, por que que o tio ficou bravo com ele. Ele ficou questionando e tentando entender o que aconteceu”.

Gabriela contou que a atitude do policial deixou o menino transtornado e ponto de passar mal e vomitar.

Indignada, ela reclamou com o agressor, falando que ele havia agredido uma criança autista. Como resposta, recebeu chacotas. “O policial agressor ria e dizia que isso não daria em nada, que não foi nada demais e que eu era louca”.

Segundo Gabriela, a conduta do policial que fazia dupla com o agressor deixa claro que houve excessos. “Ele me pediu desculpas e demonstrou um grande pesar pela atitude do colega”.

A professora vai registrar uma queixa na delegacia da Polícia Civil e na Corregedoria da Polícia Militar.

“Meu mundo desabou, sinceramente falando, e eu penso que as pessoas que passam pelo mesmo que eu estou passando precisam saber do que aconteceu para terem coragem de denunciar, assim como eu já estou fazendo”.

O ano de 2019 promete, no pior sentido possível. Por causa desta e de outras histórias, “ninguém solta a mão de ninguém” tem que ser muito mais do que uma simples frase de efeito. Vai ser questão de sobrevivência.