O povo tem suas razões e um líder, que é Lula. Por Fernando Brito

Atualizado em 9 de maio de 2018 às 14:45
Lula carregado pelo povo antes de prisão. Foto: Ricardo Stuckert/Flickr/Instituto Lula

Texto publicado no Tijolaço.

POR FERNANDO BRITO.

Política não é uma atividade privada, a do “eu gosto dele” ou “não gosto deste aí”.

Até porque seus protagonistas não são os seres humanos – com falhas, defeitos e virtudes.

O protagonista é o processo social, a formação da consciência da população, ou do que dela consegue resistir à manipulação que lhe faz o poder econômico e seu sistema de mídia.

Hoje, no Brasil, talvez não haja quem mais o compreenda do que o próprio Lula.

De outra forma, como seria ele capaz de compreender que está passando o sofrimento de uma prisão sem motivos, sete anos depois de ter deixado o governo e sem ter, durante seu mandato, perseguido ou prejudicado ninguém?

Lula pode ter – e tem – empenho pessoal em restabelecer, formalmente, a condição de inocente das acusações que lhe fazem.

Mas tem exata noção de que não é por elas que está preso, mas pelo “perigo” que representa à agudização do projeto de destruição do Brasil.

Não se pense que Lula é um primário em matéria de política, que age essencialmente por simpatia ou antipatia pessoal.

Nem mesmo preso, e submetido à semi-incomunicabilidade em que está, raciocina em função de seus humores pessoais.

Não é assim que se mantém candidato nem é assim que definirá o apoio a alguém, se for este o caso.

É terrível que alguém coloque esta questão como se fosse uma “briga de torcidas”, embora seja compreensível que o passionalismo leve alguns a tanto.

Entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 1989, numa convenção do PDT – para quem não sabe, partido que integrei até 2013 – um grupo de brizolistas carregava uma urna para que delegados e militantes votassem “contra” o apoio a Lula.

Brizola mantinha-se em silêncio, sem anunciar qual seria sua opção no turno decisivo, embora os mais próximos a ele soubéssemos – e vários, nem o apoiassem nisso – qual seria sua posição.

Brizola, sempre de orelha em pé, pediu a alguns de nós que andássemos “atrás” deles, estimulando todos a deixarem de votar, porque o ressentimento pela exclusão do velho líder gaúcho da disputa empurrava ao “não”.

Anunciar o apoio a Lula pelas virtudes que nele reconhecia e, sobretudo, por aquilo que poderia representar criaria traumas e, talvez, até divisões nos brizolistas.

Foi o dia em que nasceu a expressão “sapo barbudo”, uma reverso do que, em sua própria eleição, em 82, tinha provocado pela boca do general Euclydes Figueiredo, irmão do João: “Brizola é um sapo que a gente engole e expele depois”.

Brizola, ao discursar, dizia que a política era a arte de engolir sapos – e ele estava engolindo o de ficar de fora de uma disputa presidencial adiada por mais de 30 anos – e que seria, afinal, fantástico que aqueles que o excluíram, a elite brasileira, tivessem de, por isso, também engolirem um sapo, o sapo barbudo Lula.

É preciso muito cuidado para não agirmos feito aqueles companheiros que andavam com a urna para dizer não a Lula.

Quem quer excluir Lula talvez seja forçado a engolir sapos. Não necessariamente barbudos, mas muito mais indigestos.

Esperar por Lula não é se atrasar, como insistem os comentaristas da imprensa, loucos para que ele “entregue os pontos”.

É deixar que a qualidade de quem é líder se exerça e que ele lidere.