Por que Dilma escolheu Teori para o STF?
Esta é uma das perguntas mais intrigantes da história do golpe, dado o papel fundamental de Teori ao segurar por uma eternidade o pedido de afastamento de Eduardo Cunha feito pela Procuradoria Geral da República.
Você sabe, por exemplo, por que FHC escolheu Gilmar Mendes. Todos os dias Gilmar mostra que, muito mais que um juiz, é militante apaixonado do PSDB de FHC.
Se no lugar de Dilma estivesse um tucano, e no de Teori Gilmar, o pedido de afastamento seria deferido em horas. Cunha já estaria na cadeia, e o presidente tucano governaria em paz.
Entre os americanos, vigora a convicção de que a escolha mais importante de um presidente é a que diz respeito à Suprema Corte.
Roosevelt só conseguiu por em ação seu New Deal quando obteve, enfim, maioria na Suprema Corte. Até lá, foi derrotado sucessivas vezes por uma maioria conservadora de juízes.
A boa escolha de magistrados por Roosevelt tornou possível o New Deal, o programa econômico que retirou os americanos do abismo da Grande Recessão de 1929.
A má escolha de magistrados por Lula e por Dilma, na contrapartida, tornou possível o golpe.
Na autocrítica que o PT fizer sobre o golpe, a questão da montagem do STF haverá de ter uma importância fabulosa.
Considere o seguinte.
Os dois pilares do golpe foram a mídia plutocrática e o STF. Não havia o que fazer quanto à mídia: Marinhos, Frias, Civitas fazem o que bem entender.
Mas sobre o Supremo é diferente. Os votos dados a um presidente da República permitem a ele definir o juiz quando se abre uma vaga no STF.
Num país como o Brasil, de instituições extremamente frágeis, o STF pode ser a salvação ou a perdição de um governo.
Para Dilma, foi a perdição.
O perigo representado pelo STF já ficara claro no Mensalão. Particularmente Joaquim Barbosa marretou impiedosamente o PT, sob os holofotes entusiasmados da mídia.
A ironia é que Barbosa foi escolhido por Lula. Lula queria colocar um negro no STF e Barbosa preenchia o requisito.
O golpe já poderia ter vindo no Mensalão. O que deteve a plutocracia foi a mística da militância petista. O PT poderia parar o país, temia a direita. Isso a deteve.
Em 2016, esse temor já não existia. O PT se desgastara e sua militância como que engordara de tanto ficar com o traseiro na poltrona.
Isso ficou estampado num dia, nas Jornadas de 2013, em que Rui Falcão convocou a “maré vermelha” para demonstrar sua pujança numa manifestação. A “maré vermelha” foi varrida pelos manifestantes.
A plutocracia se animou. Era como se a porta para o golpe estivesse, enfim, aberta. A mídia radicalizou sua campanha. Abandonou o jornalismo e passou a fazer propaganda antipetista de forma descarada.
Um STF de alta qualidade poderia ser uma barreira contra o golpe. Mas Lula e Dilma fracassaram miseravelmente nessa tarefa.
O símbolo maior disso foi a demora de Teori em afastar Cunha. Não há nada que explique por que ele tenha deixado Cunha com as mãos livres para manobrar com seus métodos indecentes e ilegais o processo de impeachment na Câmara.
Lula e Dilma, com suas escolhas desastradas para a Suprema Corte, ajudaram os inimigos a derrubá-los.
Os golpistas deveriam agradecer a ambos.