
DE LONDRES
Estou na O2, a grande arena de Londres que é sede nesta semana do torneio que reúne os oito melhores tenistas do ano.
É com certa satisfação que olho meu crachá de jornalista: Diário do Centro do Mundo. DCM. A mocinha que me atende no centro de credenciamento pronuncia direitinho, ou quase: Diário do Centro do Mundo.
É uma competição particularmente importante: vai definir quem terminará o ano como número 1, Djokovic ou Federer.
O O2 não proporciona apenas esporte nestes jogos. Entretém a plateia como se se tratasse de um show.
As luzes, nas partidas, ficam acesas apenas na quadra. O público permanece numa semiescuridão azulada.
Telões compõem o espetáculo. Eles vão dando o resultado, ponto a ponto. Mas vão além. Quando é breakpoint, por exemplo, um som de filme de suspense toma conta da arena.
Federer é tratado como inglês. Ele está na quadra, para enfrentar a grande revelação deste ano, o japonês Nishikori.
O público faz uma festa para Federer, quando ele entra na quadra, uma barulheira que não se repete nem para o britânico Andy Murray.
Federer virou um cidadão do mundo. Em cada país a que vai, é tratado como um ídolo local.
No jogo contra Nishikori, Federer cometeu seus habituais erros com a esquerda. Mas sua direita – para muitos o maior golpe da história do tênis – resolveu rapidamente o jogo.
Dois sets a zero para Federer.
Foi sua segunda vitória no Masters, um torneio em que os jogadores são divididos em dois grupos de quatro. Em cada grupo, todos jogam entre si.
Federer já está na semifinal.
Terminará ele a temporada como número 1, aos 33 anos, idade quase provecta para um tenista?
Talvez.
Lembro que, no final da temporada passada, Federer parecia prestes a se aposentar. Teve que lutar, e muito, para se classificar para o último torneio do ano.
Federer não é ídolo mundial apenas pelo seu tênis espetacular, mas pelo comportamento elegante.
Na vitória e na derrota, cumprimenta o adversário da mesma forma, com um sorriso discreto.
Não quebra raquete, não xinga o juiz, não é desrespeitoso com o adversário.
Sabe ganhar, e como sabe. Mas também sabe perder, o que é para poucos.
É provavelmente o único tenista de alto nível que não tem uma “mulher troféu”, daquelas que as câmaras mostram sempre que podem.
Conheceu sua mulher quando ela jogava tênis. Ele era um iniciante ainda, sem fama e sem fortuna. Isso quer dizer que ela casou com Roger, e não com a lenda multimilionária do tênis.
Presumo que ele valorize isso.
Torço por ele. Não tanto, é certo, como minha comadre Teté, fanática por Federer talvez ainda mais do que é pelo Corinthians.
Mas torço também.
Na saída do O2, escolho comer num restaurante brasileiro, o Cabana. Está lotado: a carne brasileira faz sucesso em Londres.
A garçonete parece estreante. Tira com dificuldade o bife do espeto, e acaba fazendo parte do arroz birobiro – homenagem ao “great footballer”, avisa o menu – sair do prato para meu colo.
Tranquilizo-a.
Logo depois, bem à minha frente, derrubam um copo no salão. Ele se espatifa. É ela, a garçonete que me encheu de birobiro.
Na saída, já de pé e paga a conta, vejo uma caixa de pé de moleque. Brasileiro. Adoro, mas nunca encontrei em Londres.
“É uma delícia”, comento com a garçonete.
“Quer um?”
Fiz que sim. Ela me passou um, de graça.
Foi o final perfeito de minha jornada no O2. O metrô me aguarda. Vou atravessar a cidade, mas isso não é nenhum problema para quem tem um metrô como o de Londres – o tube, como os londrinos o chamam.