EU NÃO gostaria de ser aluno do professor Marco Antônio Villa, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos.
Tenho lido muitos bestialógicos na cobertura política, e é possível que tenha contribuído com alguns, mas Villa parece dotado uma capacidade desumana de escrever e falar asneiras.
Pobres alunos. Provavelmente são instados a ler e a elogiar as pataquadas do mestre.
Não é implicância minha. Num artigo na Folha, Villa conseguiu entrar na cabeça de Lula, num furo sem paralelo no jornalismo, e decretar que ele “deseja regressar ao poder em 2014, nos braços dos velhos oligarcas e do capital financeiro”.
Fernando Henrique Cardoso uma vez observou a um jornalista que ele não tinha como entrar em sua mente. Parece óbvio, nem sempre é. O jornalista atribuíra a FHC uma intenção num assunto que você só poderia saber invadindo a mente dele.
Foi uma pequena aula de jornalismo. “Presidente, sua intenção ao fazer isso foi blablablá. Não deu certo. E agora?” Era mais ou menos essa a questão.
Que jornalistas façam isso, compreende-se. Não somos tão educados assim. Agora, que um professor desafie a lógica tão acintosamente, e num tema relevante, impressiona.
“Desde 2008, quando impôs a mãe do PAC como candidata, começou a planejar a sua campanha de 2014.” Villa escreveu isso com a certeza cega que só a obtusidade fanática confere.
Não há um editor na Folha que leia? Que pondere? Que escolha os colaboradores? Será que o ombudsman ao menos nota?
Eu já tinha começado a ler a Folha de pé trocado com um artigo de Fernando de Barros e Silva na página 2 em que ele estipula que é “aflitivo” ver Dilma na tevê, e não apenas pelo “aspecto rombudo e robótico da sua figura”. Veja só. Porque ele pode se sentir aflito, ele decidiu que todos os brasileiros sentem. Os milhões que provavelmente levarão Dilma à presidência domingo são, então, masoquistas. Sentem-se aflitos como Silva, mas mesmo assim não votarão em Serra, nosso santo calmante.
Segundo ele, “Dilma não é, nunca foi, uma pessoa preparada para chegar à presidência”. A rigor, só se sabe se alguém será um bom presidente depois que ele está no poder e já tem obra bastante para análises. Mas Silva, num espasmo clarividente, já sabe que Dilma não é preparada, como se houvesse uma escolinha de presidentes à qual ele tivesse faltado. Ele pergunta como ela vai arbitar divergências. Que tal esperá-las?
Fora tudo, Dilma é uma “neófita”.
Com mais de 60 neófita? Francamente. Aos 30, Alexandre já tinha conquistado e perdido o mundo. Depois dos 30 e poucos, ninguém mais é imaturo, neófito ou coisa do tipo.
Terá Silva tentado agradar seus patrões dando uma pancada sem maiores razões que seu desagrado com a “figura rombuda e robótica”? Suspeito que sim, mas não afirmo porque não me atrevo a entrar em sua cabeça. Pode ser que ele seja de fato reacionário como o texto dá a entender, mais um daqueles caras que foram tragados nos anos 90 pelo que parecia ser o triunfo da direita e até agora não entendem como tudo pôde mudar tão rapidamente.
Aflitivo, isto sim, é ler a Folha — a que não tem rabo preso exceto com os anunciantes e com os próprios interesses econômicos — nestes dias.