O professor aloprado

Atualizado em 27 de maio de 2013 às 15:29
A certeza do professor

EU NÃO gostaria de ser aluno do professor Marco Antônio Villa, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos.

Tenho lido muitos bestialógicos na cobertura política, e é possível que tenha contribuído com alguns, mas Villa parece dotado uma capacidade desumana de escrever e falar asneiras.

Pobres alunos. Provavelmente são instados a ler e a elogiar as pataquadas do mestre.

Não é implicância minha. Num artigo na Folha, Villa conseguiu entrar na cabeça de Lula, num furo sem paralelo no jornalismo, e decretar que ele “deseja regressar ao poder em 2014, nos braços dos velhos oligarcas e do capital financeiro”.

Fernando Henrique Cardoso uma vez observou a um jornalista que ele não tinha como entrar em sua mente. Parece óbvio, nem sempre é. O jornalista atribuíra a FHC uma intenção num assunto que você só poderia saber invadindo a mente dele.

Foi uma pequena aula de jornalismo. “Presidente, sua intenção ao fazer isso foi blablablá. Não deu certo. E agora?” Era mais ou menos essa a questão.

Que jornalistas façam isso, compreende-se. Não somos tão educados assim. Agora, que um professor desafie a lógica tão acintosamente, e num tema relevante, impressiona.

“Desde 2008, quando impôs a mãe do PAC como candidata, começou a planejar a sua campanha de 2014.” Villa escreveu isso com a certeza cega que só a obtusidade fanática confere.

Não há um editor na Folha que leia? Que pondere? Que escolha os colaboradores? Será que o ombudsman ao menos nota?

Eu já tinha começado a ler a  Folha de pé trocado com um artigo de Fernando de Barros e Silva na página 2 em que ele estipula que é “aflitivo” ver Dilma na tevê, e não apenas pelo “aspecto rombudo e robótico da sua figura”. Veja só. Porque ele pode se sentir aflito, ele decidiu que todos os brasileiros sentem. Os milhões que provavelmente levarão Dilma à presidência domingo são, então, masoquistas. Sentem-se aflitos como Silva, mas mesmo assim não votarão em Serra, nosso santo calmante.

Segundo ele, “Dilma não é, nunca foi, uma pessoa preparada para chegar à presidência”. A rigor, só se sabe se alguém será um bom presidente depois que ele está no poder e já tem obra bastante para análises. Mas Silva, num espasmo clarividente, já sabe que Dilma não é preparada, como se houvesse uma escolinha de presidentes à qual ele tivesse faltado. Ele pergunta como ela vai arbitar divergências. Que tal esperá-las?

Fora tudo, Dilma é uma “neófita”.

Com mais de 60 neófita? Francamente. Aos 30, Alexandre já tinha conquistado e perdido o mundo. Depois dos 30 e poucos, ninguém mais é imaturo, neófito ou coisa do tipo.

Terá Silva tentado agradar seus patrões dando uma pancada sem maiores razões que seu desagrado com a “figura rombuda e robótica”? Suspeito que sim, mas não afirmo porque não me atrevo a entrar em sua cabeça. Pode ser que ele seja de fato reacionário como o texto dá a entender, mais um daqueles caras que foram tragados nos anos 90 pelo que parecia ser o triunfo da direita e até agora não entendem como tudo pôde mudar tão rapidamente.

Aflitivo, isto sim, é ler a Folha — a que não tem rabo preso exceto com os anunciantes e com os próprios interesses econômicos — nestes dias.