O projeto de barbárie no Brasil: militares podem ganhar licença para matar em caso de protesto. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 21 de novembro de 2019 às 20:11
Fuzileiros navais participam de operação na favela Kelson’s, zona norte do Rio, em 20/2/18 | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Dois episódios hoje dão conta do projeto de barbárie em curso no Brasil. Na Folha de S. Paulo, a economista-chefe da Agência de ARX, Solange Srou, escreveu que quem ganha salário mínimo no Brasil não é pobre.

Se não é pobre, seria de classe média? Se é, qual a diferença salarial dela em relação a quem ganha menos de R$ 998,00 por mês.

Solange, que seguramente não ganha menos de R$ 50 mil por mês, viveria com com um salário 50 vezes menor? Afinal, ela também é classe média

Ambos não seriam pobres.

Outro episódio que revela a barbárie é da lavra de Jair Bolsonaro. Ele anunciou um projeto de lei que amplia o conceito de excludente de ilicitude, para garantir a impunidade a policiais e militares das Forças Armadas que participarem de operações de Garantia da Lei e da Ordem.

Bolsonaro tenta implantar no Brasil, via projeto de lei, um expediente legal que, se aprovado, terá o mesmo efeito de um decreto da presidente autoproclamada da Bolívia, Jeanine Áñez.

Lá, para sufocar a resistência ao golpe de estado, ela deu aos militares uma espécie de licença para matar.

Até ontem, já havia na Bolívia 32 mortos e centenas de feridos, muitos em estado grave.

Nenhuma das vítimas estava armada.

Com o decreto, Bolsonaro se antecipa a protestos que, na atual conjuntura de retirada de direitos, serão inevitáveis.

Para aprovar seu projeto de lei, o presidente fez uma chantagem: Se o o Congresso Nacional não aprovar a matéria, o governo federal não assinará mais decretos de GLO em caso de necessidade dos estados.

Cada um se defenderá por conta própria. 

Entre o artigo da gestora de investimentos e o projeto de lei de Bolsonaro, há um ponto em comum: a subversão de conceitos do que seria pobreza e do que seria o direito do cidadão à segurança.

Em outras palavras, se alguém ganha o que, matematicamente, não é suficiente para sua subsistência, não deve reclamar, já que pobre não seria.

E se reclamar, com protestos legítimos, a resposta seria dada como na Bolívia: balas na cabeça.

É um cenário que já se desenhava desde a eleição do ano passado. Dois projetos estavam em disputa: o da barbárie, representado por Bolsonaro, e o da civilização, no segundo turno representado por Fernando Haddad.

Venceu o da barbárie, e agora formadores de opinião e especuladores financeiros, como Solange Srou, criam o ambiente cultural para legitimar a violência desmedida do estado.

Afinal, quem ganha salário mínimo (pouco mais de 200 dólares) não seria pobre, na  visão da economista que garante o rentismo no Brasil.

Reclamar por quê? Diria ela.

Os agentes da repressão teriam assim a licença para matar com a qual a Bolívia tentar avançar no projeto racista e antissocial em curso na Bolívia.

Não é muito diferente da situação no Brasil.

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