O protesto antigolpe que terminou em briga com pedaços de pau na frente da FIESP. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 26 de abril de 2016 às 14:42
As fotos que ilustram esse post foram tiradas pelo próprio jornalista
As fotos que ilustram esse post foram tiradas pelo próprio jornalista

Neste dia 24 de abril ocorreu o “Piquenique da Democracia” na frente do MASP na Paulista. A partir das 16 horas, tanto os militantes contra o golpe quanto as famílias que já frequentam a avenida aberta de domingo partilhavam o espaço. Discursos feministas e pró-minorias puxavam mais o coro de cinco mil pessoas do que as falas mais partidarizadas.

Eduardo Cunha era o inimigo número um e o arauto do golpe de Estado contra Dilma naquele protesto. Michel Temer, Aécio Neves e a oposição eram menos lembrados do que o Congresso corrupto que votou pelo impeachment.

“Venho pedalar sempre na Paulista e até levo meu filho. Estamos num momento muito delicado hoje. Precisávamos de uma visão menos polarizada e atenta ao Estado Democrático de Direito, que está em xeque. Eu chorei na segunda-feira depois da votação do golpe, mas na terça as pessoas estavam trabalhando normalmente. Como assim vão derrubar o regime democrático e as pessoas estão trabalhando normalmente? A gente tinha que parar o país”, me disse Cléo Rodrigues, que tem 31 anos.

Eduardo Cunha era o inimigo no. 1 dos manifestantes
Eduardo Cunha era o inimigo no. 1 dos manifestantes

Os manifestantes decidiram andar então até o prédio da FIESP, onde está o acampamento golpista, para fazer uma provocação simbólica. Ao som de “Dilma, querida, você fica”, a confusão começou.

“Aqui não vai ter petista não”, gritou um dos manifestantes pró-impeachment. Os seguranças da FIESP deram suporte. No meio da troca de xingamentos, eis que um homem munido de um pedaço de pau e vestido com uma camiseta regata do time Miami Heat de basquete ameaçou bater nas pessoas. Perguntei aos manifestantes qual era o nome dele, mas se recusaram a me passar. Ele passou a ameaçar repórteres que estavam no local. “Não chega perto não! Vaza! Vaza! Vaza!”.

Os agressores
Os agressores. Foto: Mídia Ninja

Natália, que tem apenas 20 anos, foi agredida por ele e ficou revoltada com o que ocorreu. “Eu nem sei direito como a confusão iniciou, mas cheguei perto pra tentar conversar. E as provocações iam continuar, porque estávamos fazendo o nosso protesto. Peguei o spray para desenhar uma mensagem no chão, ele tomou de mim e jogou na minha cara. Chegou a ameaçar espirrar. Não veio só ele, mas sim um monte de homens pra cima de mim armados com cano de ferro e paus. O pessoal me salvou e me tirou dali. O cara ainda teve a pachorra de dar uma entrevista pra uma emissora. Sabe-se lá se a Globo vai topar mostrar a história dele como real, né?”, desabafou.

Ela qualificou a agressão como machista e covarde, feita por pessoas armadas diante de outros desarmados. Os manifestantes antigolpe pegaram tapumes do acampamento para quebrar na rua, como represália. Num dos tapumes estava escrito: “precisamos de doações”. Será que os golpistas queriam fazer crowdfunding?

Natália, de 21 anos, agredida
Natália, de 20 anos, foi agredida um grupo de manifestantes pró-impeachment

Um amigo do agressor com camiseta de regata do time de Miami deu entrevista ao DCM. “Aqui é gente do bem, sabe, irmão? Gente a favor do Brasil. Nós queremos uma solução pra mim, pra você, pra todo mundo. Tem gente do bem que quer intervenção militar sim. E eu vim preparado pra bater nesses vagabundos da CUT. Eu quero só que você ouça a minha versão da história para que as pessoas saibam a verdade. Sou filho de militar e vim preparado pra isso”, disse Davi Bragantino, que foi ajudar o amigo. Ele estava vestido com uma camiseta da seleção brasileira e uma bandeira do Brasil amarrada como se fosse o Superman.

Após sua entrevista, a Polícia Militar foi pedir esclarecimentos aos manifestantes golpistas da agressão que havia acontecido. Uma mulher vestida de verde e mancando foi retirada do local, embora ela não tivesse sido vista no momento da confusão.

A manifestação que começou num encontro familiar na Paulista aberta por Fernando Haddad terminou quase numa batalha campal com pessoas armadas com pedaços de pau e canos de aço.

Alguém ainda tem dúvida que o golpe vai gerar uma tragédia em São Paulo?