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O protesto na Paulista terá a “proteção” de um governo metido no escândalo da merenda. Por Mauro Donato

 

O receio de que a possibilidade de conflitos entre grupos pró e contra impeachment pudesse esvaziar a manifestação da avenida Paulista fez com que o governo do estado de São Paulo agisse.

Primeiro foi Geraldo Alckmin proibindo atós pró-governo Dilma Rousseff no dia 13. Diante do anúncio de que o PT não iria refrear a militância, o risco permaneceu. Era preciso uma declaração mais enfática.

Foi então que ontem veio a público o Secretário de Estado da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, para acarinhar os pró-impeachment da presidente e oferecer-lhes proteção.

Após dizer que estima um público de um milhão de pessoas (!) no próximo domingo, Moraes afirmou que a Polícia Militar fará cordões de segurança tática no entorno da avenida Paulista e que ali só será permitido quem é pró-impeachment.

“Se nós percebermos que grupos antagônicos estão se aproximando, a eles não será permitido o ingresso. ‘Ah, mas isso fere o direito de ir e vir das pessoas’. Não. Porque obviamente alguém que quer ir em uma manifestação contrária é para gerar confusão, incitar crimes (!!). Ele não tem direito de fazer isso”, declarou o Secretário.

Em síntese: venham, tá tranquilo, tá favorável.

Estranho, eu nunca vi tamanha preocupação com outros ativistas ou outras manifestações. Na sexta-feira passada, dia da condução coercitiva de Lula, manifestantes pró-impeachment reuniram-se em comemoração na Paulista sem aviso prévio e fecharam a avenida. Por algo semelhante, o Movimento Passe Livre e seus simpatizantes seriam recebidos com bombas e tiros de balas de borracha, cercados, perseguidos e vários seriam detidos.

Os chamados para a manifestação pró-impeachment têm seguido o roteiro usual. Como de costume, um vídeo de atores globais (cujo elenco é formado por Susana Vieira, Marcio Garcia, Juliano Cazarré, Marcelo Serrado, Juliana Paes, Danielle Suzuki, Malvino Salvador, Evandro Mesquita e Dudu Azevedo) circula com as batidas frases de efeito de sempre.

Convocam a população a aderir ao movimento Vem Pra Rua Brasil e dizem que não deixarão o país ir para o buraco, querem um “basta à impunidade e corrupção”. Seria bom perguntar se isso faz alusão aos patrões deles também.

Agora, como quem chuta cachorro morto, políticos até então ausentes e em cima do muro alardeiam que irão também comparecer e discursar. O Movimento Brasil Livre de Kim Kataguiri alega que isso mostra que a sociedade está aderindo a causa.

“É importante que estejam nas ruas porque serão (os políticos) os protagonistas daqui para frente, empoderados pela legitimidade gerada pelas ruas.” Seria bom perguntar a esses políticos ‘futuros protagonistas’ e aos simpatizantes do Vem Pra Rua, do MBL e Revoltados Online o que têm a dizer a respeito das faixas patrocinadas por esses movimentos que estão colocadas nos viadutos ao longo da avenida 23 de maio e que desrespeitam a lei cidade limpa.

Bobagem, perda de tempo. Para a pergunta fundamental já sabemos a resposta. Ao recorrer ao universo futebolístico para explicar suas decisões, o Secretário Alexandre de Moraes disse: “Você não vai com uma camisa do Palmeiras na torcida do Corinthians e você não vai com a camisa do Corinthians na torcida do Palmeiras.”

Além de dizer o óbvio, Moraes já deixou transparecer qual camisa enverga.

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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