O psicopata corporativo

Atualizado em 1 de setembro de 2012 às 22:52
Bateman pode estar a seu lado agora mesmo

Charmoso, mas sádico. Carismático, mas sem conteúdo. Impulsivo, mas sem remorsos. Sofisticado, mas manipulador. Inteligente, mas incapaz de conviver em harmonia. Jovem e sarado, mas desalmado. Bem vestido, mas sem ética. Predador social sem escrúpulos, busca poder e dinheiro para atender sua insaciável escalada hierárquica. Você trabalha com alguém assim? Cuidado: mais que cascavel de terno, você pode estar ao lado de um psicopata corporativo.

Um especialista no assunto, o professor Robert Hare, da Universidade de British Columbia, Canadá, se debruçou sobre o universo executivo. Para ele, 1% dos executivos é psicopata. Não o tipo violento como Jack o estripador ou Charles Manson. Ao contrário, o seu correspondente nas empresas é educado e refinado. Mas os seus desvios de caráter, frieza e agressividade, são confundidos como atributos positivos e pré-requisitos para atuar no competitivo mundo dos negócios.

Quem leu o livro Psicopata Americano – ou assistiu ao filme baseado na obra de Brett Easton Ellis – lembra o anti-herói, o cruel e endinheirado garanhão yuppie Patrick  Bateman, que trabalha em Wall Street e adora Donald Trump. Graduado em Harvard, gasta dinheiro em restaurantes caros, boates da moda, roupas e academias. Ele consome com a mesma avidez perfumes, mulheres, produtos de beleza, equipamentos de última geração e drogas. Faz das grifes moeda de relacionamento, e do sucesso material uma meta da sua existência vazia.

Como pode alguém desequilibrado e destrutivo conviver com pares brilhantes sem que eles notem que existe algo de errado? É que ao adotar símbolos e hábitos de sucesso, como marcas famosas, lugares de status, e cartão de crédito multifuncional – que serve tanto para pagar como administrar cocaína – Bateman está dentro dos padrões de aceitação social. Torturar e matar suas vítimas, que somem despercebidas na cidade violenta, é um mero acessório.

Fora da ficção, um psicopata corporativo, ao invés de grifes, só precisa ter um bom domínio de procedimentos, protocolos e rituais internos para garantir sua sobrevivência e ascensão. Ele também sabe torturar e assassinar, mas de forma mais sutil, como humilhar subordinados, não assumir erros e atribuí-los a outros,  submeter colegas a acessos de fúria, ou, ato extremo, promover demissões. O comportamento, por mais bizarro, é percebido como excêntrico – desde que devidamente compensado por suas contribuições aos resultados do negócio.

Não é tão difícil identificar um em seu caminho. Fique longe dele é meu conselho básico. Mas, antes, olhe para o espelho com honestidade e reflita se você mesmo  não é um psicopata corporativo.  Se você concluir que sim, não se desespere: suas chances de avançar na corporação são enormes.