O PT ganhou ou perdeu com a ausência de Lula ou um representante no debate? Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 10 de agosto de 2018 às 10:08

Debates nunca foram decisivos para definir eleições, mas ajudam nas campanhas. Alckmin, por exemplo, como sempre, foi sem graça no debate da Band. Mas fez exposições como se estivesse gravando em estúdio, e deve usar trechos para o programa eleitoral, em que vai dizer que venceu o debate, que o debate mostrou que é o mais preparado, etc. Não só ele, mas todos vão dizer coisas parecidas.

A ausência mais destacada foi a do PT, seja através de Lula candidato, impedido pela justiça de participar, ou de Haddad, o vice. Para analistas de TV, o partido perdeu. Carla Jiménez, do El País, acha que, se o partido continuar fora da vitrine, “vai perder espaço precioso na cabeça do eleitor que ainda flerta com a possibilidade de escolher a ‘chapa triplex’”. O texto é contundente, a partir do título: “Um debate sem vencedores, e com um perdedor: a candidatura do PT.”

Terá sido mesmo?

Em 2006, quando foi candidato à reeleição, Lula só aceitou participar dos debates no segundo turno. No primeiro, em que todos são francos atiradores, ele se preservou. Era a época do mensalão e, mesmo com toda a artilharia pesada na TV, Lula foi disparado o mais votado no primeiro turno. No segundo, impôs uma derrota humilhante a Geraldo Alckmin, que teve menos votos do que no primeiro.

A exposição só é boa quando se tem o que dizer, e a mensagem encontra eco no público. Fora disso, é desgaste. Em 2018, Lula não precisa participar de nenhum debate para mostrar o que pensa e o que pode fazer. O eleitor já sabe e, oito anos atrás, 87% consideraram que o governo dele foi ótimo ou bom — o maior índice da história.

É esta memória do eleitor que o levará para o segundo turno — na hipótese remotíssima de ser candidato, já que os ministros das cortes superiores anteciparam o julgamento sobre ele. Se não for Lula, será um candidato dele, porque um quarto dos eleitores já disseram, nas pesquisas, que votarão no candidato que ele indicar.

O debate na Band até teve boa audiência, para o padrão da emissora, entre 5 e 6 pontos no Ibope, o que lhe garantiu o terceiro lugar no ranking das emissoras de TV aberta. Rendeu boas piadas na internet e foi um dos assuntos mais comentados na rede social.

Mas, para os candidatos que disputam a segunda vaga no segundo turno, não teve resultado positivo, exceto pelo fato de que poderão usar trechos do programa no horário eleitoral. Se tivesse tido um vencedor, o campeão de buscas na internet não teria sido o exótico Cabo Daciolo, mais até que Bolsonaro, que, em condições normais, lidera no ranking do Google.

A partir desse resultado, pode-se imaginar que talvez Bolsonaro perca algumas frações para o concorrente. Este, talvez espertamente ou não, usou a Bíblia para sensibilizar o eleitor evangélico menos informado, que hoje vota majoritariamente no candidato do PSL.

Para todos os candidatos presentes, o melhor teria sido que um representante do PT participasse, pois, assim, teriam uma chance de tentar desconstruir um cenário altamente favorável aos petistas. Tentar mostrar, por exemplo, que Haddad não é Lula.

Mas, com a ausência do líder nas pesquisas ou de um representante seu, o debate de ontem ficou parecendo a disputa da série B do Campeonato Brasileiro. Foi como ver o Fortaleza, o São Bento, o Vila Nova e o Sampaio Correa se enfrentando. Tem emoção para quem é torcedor, mas, para os demais, é só um passatempo.

O que eles querem ver mesmo é o jogo da série A, com o time de ponta em campo. Campeonato sem os grandes não é a mesma coisa. Sem Lula ou um representante dele, o debate não passa de um programa divertido na televisão. Todos sabem que a taça do principal campeonato está longe dos que estão se apresentando.