O “pum da ditadura” da Veja na semana do rombo estrondoso. Por Fernando Brito

Atualizado em 20 de agosto de 2017 às 16:57

A revista Veja soltou, como dizia a minha avó, “um traque”.

Caprichosamente costurada diante meses, uma sindicância da Previdência – aquela a qual se culpa pelo rombo imenso R$ 159 bilhões nas contas públicas- apurou, vejam que notícia estrondosa, a “gravíssima” irregularidade de que a aposentadoria R$ 5 mil e poucos reais de Dilma Rousseff, concedida aos 68 anos de idade, foi paga um mês antes do que a burocracia deveria indicar. Isso depois de quase 37 anos de serviço e de, mesmo tendo sodo barbaramente torturada, jamais ter pedido pensão ou indenização de anistiada política.

Uau! No país onde o atual presidente, desde os 55 anos, ganha uma aposentadoria de R$43 mil que, depois da retenção do teto constitucional fica acima de R$ 30 mil brutos e a acumula com a remuneração idêntica do cargo e e apanhado com seus auxiliares carregando malas de R$ 500 mil, finalmente descobriu-se o grande crime da presidenta deposta: ter recebido, por erro de uma servidora, essa “bolada” um mês antes dos prazos burocráticos!

Detalhe: o ato do ministro do Desenvolvimento Social – a Previdência é da Fazenda, mas o INSS é do MDS, pode? – punindo ridiculamente funcionários que desembaraçaram – sem nenhuma fraude – a aposentadoria de Dilma foi preparado especialmente para a edição da Veja: não foi ainda sequer publicado no boletim do Instituto.

Armação da pior espécie, para criar mais um factóide digno da mesquinharia do governo e da revista.

Transcrevo dois parágrafos da nota emitida ontem pela ex-presdenta:

Inicialmente, o governo golpista se recusara a reconhecer o tempo de serviço dela, com base nos efeitos da anistia. É que, além de ter sido encarcerada pela ditadura no início de 1970, Dilma Rousseff foi obrigada, a partir de 1977, a se afastar de seu trabalho, na Fundação de Economia e Estatística, por integrar a chamada lista do General (Sílvio)Frota. Só no final dos anos 1980, foi anistiada.

Por isso, Dilma Rousseff pleiteou para a sua aposentadoria o reconhecimento pelo INSS do período de anistia de aproximadamente dez anos. O governo golpista negou-lhe os efeitos da anistia com o evidente objetivo de prejudicá-la. Alegou que tentava fraudar a previdência, procurando se aposentar antes da hora. A ação foi frustrada porque Dilma Rousseff havia trabalhado por todo esse período e podia facilmente comprová-lo. Como o fez.

Silvio Frota, para os mais jovens, era um general, Ministro do Exército, que queria deter a abertura promovida por Ernesto Geisel e foi por ele demitido, em 1977. Antes, para criar motivos para seu movimento, mandou espalhar pelo Estadão uma “lista de comunistas infiltrados do serviço público”.

Por conta disso, Dilma foi demitida, naquele ano, como registra a imagem do jornal gaúcho, naqueles dias. É só fazer as contas e ver que ela tem muito, muito mais tempo que o necessário para aposentar-se.

Quem quiser conhecer o episódio, veja a matéria do Zero Hora, em 2012.

O Governo Temer e a Revista Veja, portanto, repetem o que fazia Sílvio Frota. Equiparam-se a ele em pequenez.

Ratos vivem na imundície.

Texto originalmente publicado no site Tijolaço.