O qua acontece com a Escócia se o “sim” ganhar o referendo de independência

Atualizado em 18 de setembro de 2014 às 10:13

ESCócia

Publicado originalmente na DW.

 

Uma era de mais de 300 anos pode acabar no dia 18 de setembro, quando escoceses decidem sobre a separação da Escócia do Reino Unido. Caso o “sim” vença, o novo Estado terá desafios políticos e econômicos.

A Escócia se torna independente imediatamente após a contagem dos votos?

No referendo a ser realizado em 18 de setembro será somente votado se os escoceses querem se tornar independentes. Caso a maioria dos eleitores se decida pela separação, a independência não é imediata. Pelo plano atual, a data convencionada seria o dia 24 de março de 2016. No mais tardar até o final da transição, diversas questões políticas e econômicas deverão ser esclarecidas.

Uma Escócia independente continuaria associada à União Europeia e à Otan?

Caso se separe do Reino Unido, a Escócia será um novo Estado após o final da fase de transição, no início de 2016. E como novo Estado, ela precisa requerer a adesão à UE. O mesmo vale para a Otan: como novo Estado, a Escócia não continua associada de forma automática e, assim, tem que apresentar um novo pedido. A adesão, porém, somente é aceita se o novo Estado obtiver a aprovação de todos os países-membros da Otan.

O que significa para a Europa a independência da Escócia?

Muitos países europeus estão preocupados com o referendo. Pelo fato de os escoceses serem considerados mais pró-Europa do que o restante dos britânicos, a separação do Reino Unido iria fortalecer o campo dos eurocéticos. Caso o Reino Unido realize, como anunciado, o referendo em 2017 sobre a adesão à UE, a falta de quatro milhões de votos de eleitores da Escócia poderia ser decisiva para que os contrários à associação sejam bem-sucedidos.

Além disso, uma independência escocesa poderia influenciar os movimentos de independência em outros países, como na Espanha e Bélgica. Para o Reino Unido, a independência escocesa poderia significar que, num futuro próximo, a Irlanda do Norte também queira seguir o mesmo caminho.

Qual moeda teria a Escócia independente?

Até março de 2016, a libra permanecerá o meio de pagamento na Escócia. Após o período de transição, Londres rejeita uma união monetária de forma categórica. O premiê escocês, Alex Salmond, porém, anunciou que a libra pode ser mantida como moeda nacional – em caso de necessidade também sem o consentimento dos britânicos. Neste caso, entretanto, a Escócia não teria um banco central próprio e não poderia imprimir ela mesma dinheiro adicional.

Uma possível adesão da Escócia independente à União Europeia impõe a obrigação do país em introduzir o euro. Antes disso, porém, os países candidatos devem indexar suas moedas ao euro antes de incorporar formalmente a moeda do bloco europeu.

Uma alternativa seria também uma moeda própria. A Escócia imprime atualmente notas de libras escocesas próprias que têm paridade com a libra esterlina. Com uma moeda própria, caso necessário, o governo poderia desvalorizá-la e influenciar as taxas de juros. Assim, possíveis buracos no orçamento poderiam ser tapados com essas medidas.

O que acontece com as dívidas conjuntas da Escócia e Reino Unido?

Londres já sinalizou que, inicialmente, ficará responsável por toda a dívida pública caso a Escócia se decida pela independência. Após a fase de transição, como desejado pelo governo britânico, a Escócia terá que assumir uma “parte justa e proporcional do passivo financeiro do Reino Unido”. É questionável, porém, se as dívidas serão divididas conforme o desempenho econômico ou percentual populacional do novo Estado. Para a Escócia, a primeira opção seria a mais barata.

Como chamar o Reino Unido?

A Grã-Bretanha, que, juntamente com a Irlanda do Norte, forma o Reino Unido, ficaria certamente “menor”, uma vez que, sem a Escócia, perderia 5,3 milhões de habitantes, ou 8% de sua população atual, além de cerca de 30% de seu território. O nome de um futuro Reino Unido sem a Escócia é uma das questões mais controversas. É provável que o nome continue o mesmo, mas, na percepção internacional, o termo adquire uma nova conotação, um país com menos influência global ou uma “Little Britain”.

A rainha Elizabeth 2ª, do Reino Unido, continuará sendo rainha da Escócia independente?

No seu Livro Branco, um compêndio que reúne as diretrizes de uma futura Escócia ‘livre’, os defensores da separação sugerem que Elizabeth 2ª se torne chefe de Estado da nova nação, o mesmo papel que a monarca desempenha, por exemplo, no caso do Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Se isso definitivamente acontecer, Elizabeth 2ª não iria deixar sua residência de verão, o Castelo Balmoral, ou sua residência escocesa oficial, o Palácio de Holyrood, em Edimburgo.

Mas é possível que, no futuro, o Parlamento passe a incluir partidos que se opõem à monarquia, e, eventualmente, o país torne-se uma república. Escócia e Inglaterra tiveram a mesma monarquia desde James 6º da Inglaterra (conhecido na Escócia como James 1º) herdou o trono inglês em 1603. Um século depois, pelo chamado ‘Act of Union’ ou acordo de união de 1707, os dois países selaram a união política.