O que a Bíblia diz sobre aborto? Nada. Já sobre matar mulheres e crianças, Deus fala muita coisa

Atualizado em 17 de agosto de 2020 às 19:55
Sara Winter divulgou nome de criança de 10 anos que foi estuprada

A menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada pelo tio em São Mateus, no Espírito Santo, conseguiu interromper a gravidez nesta segunda, 17, em um hospital de referência em Pernambuco.

Ela passa bem e sobreviveu à escumalha de fanáticos incitados por Sara Winter e Damares Alves que foram tocar o terror religioso.

A terrorista de extrema direita publicou o nome da criança e mandou católicos asquerosos para a frente da instituição de modo a impedirem o médico “aborteiro” de fazer seu trabalho.

“Rezem! De joelhos no chão agora!”, escreveu a criminosa nas redes.

Vinte manifestantes atacaram verbalmente a equipe médica e chamaram os funcionários de “assassinos”. A Polícia Militar conteve o bando quando tentava invadir o prédio.

Esses talibãs cristãos têm obsessão com abortistas e usam a Bíblia para dizer que se trata de assassinato de um bebê inocente — não importa o que reze a lei.

Ocorre que o Deus que eles evocam simplesmente nunca se ocupou do tema.

A fundação americana Freedom From Religion falou do assunto. Reproduzo aqui alguns trechos de um bom artigo.

Das mais de 600 leis de Moisés, nenhuma faz referência ao aborto.

Uma lei mosaica sobre aborto espontâneo contradiz especificamente a afirmação de que a Bíblia é antiaborto, afirmando claramente que o aborto espontâneo não envolve a morte de um ser humano.

Se uma mulher abortar como resultado de uma briga, o homem que causou o aborto deve ser punido. Se a mulher morrer, no entanto, o culpado deve ser morto. (…)

A bíblia ordena a pena de morte para o assassinato de um ser humano, mas não para a remoção de um feto.

Quando a vida começa?

De acordo com a bíblia, a vida começa no nascimento – quando o bebê respira pela primeira vez. 

Desesperados por uma base bíblica para suas crenças, alguns antiabortistas citam passagens obscuras, geralmente metáforas ou frases poéticas, como: “Eis que fui formado em iniqüidade; e em pecado minha mãe me concebeu” (Salmo 51:5)

Isso não diz nada sobre o aborto.

Moisés, Jesus e Paulo ignoraram todas as chances de condenar o aborto. Se o aborto é tão importante, por que a Bíblia não disse isso?

Muitos antiabortistas citam o sexto mandamento, “Não matarás” (Êxodo 20:13), como evidência de que a Bíblia é antiaborto.

Eles falham em investigar a definição bíblica de vida (respiração) ou seu silêncio ensurdecedor sobre o aborto. Significativamente, a lei mosaica em Êxodo 21: 22-25, seguindo diretamente os Dez Mandamentos, deixa claro que um embrião ou feto não é um ser humano.

Um leitor honesto deve admitir que a Bíblia se contradiz. “Não matarás” não se aplicava a muitos seres humanos vivos e respirando, incluindo crianças, que eram rotineiramente massacradas na Bíblia.

A lei mosaica ordena “Matarás” pessoas por cometerem “crimes” como amaldiçoar o pai ou a mãe (Êxodo 21:17), por ser um “filho teimoso” (Deut. 21: 18-21), por ser um homossexual (Levítico 20:13), ou mesmo para apanhar gravetos no sábado (Números 15: 32-35)!

Longe de proteger a santidade da vida, a bíblia promove a pena capital por conduta que nenhuma pessoa civilizada ou nação consideraria criminosa.

Os assassinatos em massa eram rotineiramente ordenados, cometidos ou aprovados pelo Deus da Bíblia. Um exemplo típico é Números 25: 4-9, quando o Senhor casualmente ordena a Moisés que massacre 24.000 israelitas: “Pegue todas as cabeças do povo e pendure-as diante do Senhor contra o sol.” Claramente, a Bíblia não é pró-vida.

Damares tenta alertar crianças sobre o novo coronavírus

A maioria dos estudiosos e tradutores concorda que a injunção contra matar proibia apenas o assassinato de hebreus (já nascidos). Era temporada de caça a todos os outros, incluindo crianças, mulheres grávidas e bebês recém-nascidos. (…)

“Feliz aquele que apanhar e espatifar os pequeninos contra as pedras.” Salmo 137: 9

A Bíblia não é pró-criança.

Por que Deus colocou 42 crianças em apuros apenas para provocar um profeta (2 Reis 2: 23-24)? Longe de demonstrar uma atitude “pró-vida”, a Bíblia dizima bebês inocentes e mulheres grávidas em passagens sangrentas, começando com o dilúvio e a destruição gratuita de Sodoma e Gomorra, progredindo para o assassinato do filho primogênito de cada família em Egito (Êxodo 12:29) e as ameaças de aniquilação do Novo Testamento.

Eis uma pequena amostra de mandamentos bíblicos ou ameaças de matar crianças:

Números 31:17: Agora, portanto, mate todos os machos entre os pequeninos.

Deuteronômio 28:53: E comerás do fruto do teu próprio corpo, a carne de teus filhos e de tuas filhas.

I Samuel 15: 3: Mata o homem e a mulher, infante e criança de peito. 

Isaías 13:16: Seus filhos também serão despedaçados diante de seus olhos; suas casas serão destruídas e suas esposas, violadas.

Isaías 13:18: Não se apiedarão do fruto do ventre; seus olhos não pouparão crianças.

Ezequiel 9: 6: Mate velhos e jovens, tanto donzelas como crianças.

Oséias 13:16: seus bebês serão despedaçados, e suas mulheres grávidas serão despedaçadas. (…)

Depois, há as terríveis advertências de Jesus: “Porquanto eis que estão chegando os dias em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que jamais geraram e os seios que nunca amamentaram”. Lucas 23:29

Os ensinamentos e contradições da Bíblia mostram que os antiabortistas não têm uma “base bíblica” para sua afirmação de que sua divindade é “pró-vida”.

Os abortos espontâneos ocorrem com muito mais frequência do que os abortos médicos. Os livros didáticos de ginecologia citam uma taxa de aborto espontâneo de 15%, com um estudo médico revelando uma taxa de aborto espontâneo de quase 90% no início da gravidez.

Isso faria de uma divindade responsável pela natureza o maior abortista da história. (…)