O que a briga entre Casagrande e Ana Paula diz sobre o Brasil de Bolsonaro. Por Nathalí

Atualizado em 18 de maio de 2021 às 14:43
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Por Nathalí

A treta entre Ana Paula Henkel e Walter Casagrande ganhou os tribunais depois que a ex-jogadora de vôlei decidiu processar o comentarista esportivo por calúnia.

A briga veio a público em fevereiro deste ano, quando Casagrande escreveu no artigo “Do Esporte para esportistas”, sua coluna no G1, que Ana Paula é a “defensora dos violentos, dos antidemocráticos, das armas e de tudo que é ruim em nossa sociedade”.

O artigo é um pedido de desculpas aos fãs e entrega, sem a menor cerimônia – nota: não faça cerimônia na hora de criticar os Bolsonaristas – a sordidez de Ana Paula Henkel e o desserviço que ela presta ao Brasil.

“Na verdade, quero pedir desculpas por ter posto no meio de vocês, e por muito tempo, uma pessoa intragável, prepotente, arrogante, defensora de armas, que se disfarçou de jogadora de vôlei, capaz de defender até esse infame deputado preso por ser violento e golpista” [referindo-se ao deputado Daniel Silveira].

O texto é um desabafo elegante, cirúrgico, que não deixa espaço a nenhuma defesa minimamente convincente – ainda que essa defesa pudesse existir – e cada palavra escrita por Casagrande agride o que quer que Ana Paula entenda como moral e expõe visceralmente sua indignidade, mas não traz inverdades.

Dizer que uma bolsonarista é “defensora dos antidemocráticos, dos violentos e das armas” não é sequer um exagero ou força de expressão: é pura e simplesmente a verdade dos fatos.

Para o bolsonarismo, a violência armada é uma bandeira – bandeira que Ana Paula levanta em qualquer oportunidade que lhe aparece, certamente sem se dar conta de que escreve seu nome na história do Brasil como uma das tantas responsáveis pelo período mais nefasto que já atravessamos enquanto nação.

Resultado: a ex-esportista teve seu pedido liminar de direito de resposta negado judicialmente, uma vez que a rede globo já lhe havia cedido espaço para se defender sem a necessidade de intervenção judicial – ou seja, não precisava de mimimi.

O fato é que os bolsonaristas mais caricatos curtem um processo judicial. Reclamam do mimimi, mas adoram. Qualquer coisa é injúria, calúnia e difamação (embora muitas vezes não saibam a diferença entre os três), como se o judiciário brasileiro já não estivesse abarrotado o suficiente. Eis, portanto, uma das tradições bolsonaristas: pagar de brabo mas ligar pro advogado no primeiro artigo difícil de engolir.

Aliás, embora o artigo de Casagrande seja de fato impecável, eu acrescentaria ainda o seguinte: além de antidemocrática, defensora de armas e violência, Ana Paula Henkel é baba-ovo de norte-americano (embora chame isso de fascínio pela história dos EUA), e, por último mas não menos terrível, ela apoia e acoberta um genocida – e quem apoia um genocida, genocida é.

A crítica de Casagrande é necessária porque gente como Ana Paula Henkel é perigosíssima: gente que defende a idiotia bolsonarista em um portuguêm impecável, em uma roupa alinhada, sob um manto de pseudointelectualidade inaugurado e mantido pelo olavismo.

Essa gente cria propositadamente uma aparência de seriedade, fala as asneiras mais absurdas com convicção (embora sem provas ou a mínima lógica) – e convencem quem é tão burro e superficial a ponto de se deixar levar por um bom português e uma retórica que parece fazer sentido – a retórica do ódio, disse o Professor João Cézar de Castro (autor do livro Guerra Cultural, uma análise da ascenção bolsonarista no Brasil que eu recomendo fortemente).

Bolsonaristas como Ana Paula Henkel são, mesmo antes do próprio Bolsonaro, os primeiros e maiores inimigos do Brasil, porque tornam palatável a barbárie bolsonarista.

Viva Casagrande.