O que a China está dizendo com o julgamento de Bo Xilai

Atualizado em 23 de agosto de 2013 às 17:14

A mensagem é: ninguém está acima da lei.

Bo Xilai no tribunal
Bo Xilai no tribunal

A China, com o caso Bo Xilai, está dando um recado para todos os chineses: ninguém está acima da lei.

O país enriqueceu. Caminha para ser a maior potência do mundo. Muito dinheiro está indo parar na mão dos chineses.

Montar negócios prósperos ok, como disse Deng Xiao Ping, o líder chinês que promoveu uma virada no país há 30 anos.

Mas roubar não.

Bo Xilai, que era uma estrela em ascensão no governo chinês, está agora no banco dos réus.

As acusações são múltiplas. Propinas, desvio de dinheiro público, acobertamento de um crime (a morte de um britânico), abuso de poder.

O julgamento está sendo acompanhado entre os chineses com enorme interesse. O equivalente ao Twitter chinês transmite ao vivo o que se passa no tribunal.

Bo surpreendeu a todos ao partir para o ataque. Disse que foi coagido a se confessar. Negou os crimes de que é acusado. E chamou sua mulher de “louca” ao rejeitar as acusações que ela, num vídeo gravado na cadeia, lhe fez. (Ela foi julgada e condenada alguns meses atrás por crimes parecidos com os que são atribuídos ao marido.)

No vídeo da mulher de Bo Xilai se viu, pela primeira vez, a versão dela para a morte do britânico com quem tinha negócios. Segundo ela, o sócio teria ameaçado o filho do casal. A mãe, segundo esta versão, matou em defesa da cria.

Comentaristas chineses dizem que ao enquadrar Bo Xilai o governo quer mostrar que pode pegar “tigres” em casos de crime e não apenas “moscas”.

A China tem uma cultura tão forte que a torna “indestrutível”, para usar uma expressão de Bertrand Russel, filósofo inglês que no começo dos anos 1900 passou uma temporada entre os chineses e depois escreveu um livro excelente sobre o país. (Disponível, de graça, no iBooks.)

O país sobreviveu a predações externas de toda natureza. No chamado “Século da Humilhação”, a Inglaterra impôs o ópio aos chineses pela força de seus canhões e depois tomou Hong Kong.

Alemanha, França e Estados Unidos se locupletaram também com a China combalida depois de ser batida pelos britânicos nas infames Guerras do Ópio.

E o Japão, bem, o Japão fez horrores, o último dos quais foi pegar na Segunda Guerra Mundial para si ilhas chineses que agora diz, cinicamente, que sempre foram suas.

A China, graças à força da cultura confucionista, sobreviveu a todos os inimigos externos. No passado remoto, os mongóis ocuparam o país, mas a cultura confuciona prevaleceu e os ocupantes foram assimilados, em vez de assimilar.

Mas o pior inimigo da China é interno. Sua conversão em superpotência pode minar os valores preciosos que fazem dela pujante mesmo sendo a civilização mais antiga do mundo.

O castigo de Bo Xilai é um sinal de que os líderes chineses estão atentos a esse risco. Analistas míopes tentarão ver aí defeitos e vícios chineses, mas a verdade é que a punição de Bo é um ponto alto e positivo na construção do que se pode classificar de “Século Chinês”.