O que a foto de Merval com o filho de FHC diz sobre o caráter do jornalismo brasileiro. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 20 de maio de 2015 às 8:15
Paulo Henrique Cardoso e Merval: promiscuidade jornalística
Paulo Henrique Cardoso e Merval: promiscuidade jornalística

Está circulando na internet uma foto que é um símbolo perfeito da falência moral do jornalismo das grandes corporações brasileiras.

Nela, Merval aparece agachado ao lado do filho mais velho de FHC, Paulo Henrique.

A informação que corre é que foi tirada em Nova York, por ocasião de um prêmio dado a FHC.

Não importam as circunstâncias. A foto poderia ter sido tirada no Rio. O que importa é o fato em si.

A lição primordial do maior jornalista da história, Joseph Pulitzer, é: “Jornalista não tem amigo.”

Por uma razão essencial: amizades interferem no trabalho do jornalista.

Claro que não estou me referindo aos amigos de fora da vida profissional: o compadre, o companheiro de futebol ou de cerveja, este tipo de coisa.

Estou falando estritamente de figuras como Paulo Henrique Cardoso.

Nos Estados Unidos, a máxima de Pulitzer foi por algum tempo esquecida. Mas já faz décadas que foi recuperada.

Ficou na poeira a era dos jornalistas íntimos da Casa Branca, como James Reston. Entendeu-se que o conteúdo que produziam, embora frequentemente brilhante, era viciado pela amizade presidencial.

Merval é o anti-Pulitzer.

São abjetas as fotos que ele tirou com integrantes do STF na época do Mensalão. Um dos juízes chegou ao cúmulo de fazer o prefácio de um livro de Merval sobre o célebre julgamento.

(Tratando-se de Merval você bem pode adivinhar que se tratava de um coletânea de artigos já escritos e publicados.)

A imprensa deve fiscalizar a Justiça, e não confraternizar com ela. Da mesma forma, a Justiça deveria vigiar a imprensa.

A promiscuidade entre a imprensa e a Justiça, tão bem representada pelas fotos de Merval com juízes, é péssima para a sociedade.

Deveriam se fiscalizar, e não confraternizar
Deveriam se fiscalizar, e não confraternizar

Tão ruim quanto isso é um comentarista político que fica dando tapinhas nas costas de lideranças políticas.

Há aí um conflito de interesses.

Não vou entrar na seguinte questão. Se a  fotografia é mesmo de Nova York, quem pagou a passagem de Merval? O Globo? Ele mesmo?

Pausa para rir e para invocar Wellington: quem acredita naquilo acredita em tudo.

Um dia, a desfaçatez com que Merval aparece ao lado de gente que ele deveria cobrir profissionalmente soará como aberração no Brasil, a exemplo do que já acontece em países socialmente mais avançados.

Por ora, termino com uma recomendação aos jovens jornalistas. Confio que eles construirão um ambiente jornalístico eticamente muito mais saudável do que esse que temos hoje.

A recomendação é: “Estão vendo esta foto? Jamais façam o mesmo.”