O que a morte por corona do filho de um bolsonarista revela sobre o clima de ódio atual. Por Donato

Atualizado em 3 de abril de 2020 às 14:21
Manoel Balbino e o filho Matheus Aciole (Foto reprodução rede social)

No dia 30 de março, Manoel Balbino perdeu seu filho para o coronavírus. A morte do rapaz de 23 anos, formado em gastronomia, foi a primeira em Natal (RN) e por isso mencionada até no Jornal Nacional.

Talvez por solidariedade depois da exposição do ocorrido na TV, a página de Manoel Balbino em rede social passou a receber uma enxurrada de visitas. Quero crer que a maioria tinha o intuito de expressas as condolências.

Mas Manoel Balbino é um bolsonarista raiz, desses que fazia postagens ridicularizando os panelaços contra o desgoverno, partilhava mensagens do indefensável Marco Feliciano e fazia chacota com a morte de Marielle Franco.

Sobretudo nas mais recentes, Balbino vinha compartilhando mensagens de Bolsonaro menosprezando o perigo da pandemia e incentivando as pessoas a burlarem os isolamentos determinados por governadores e prefeitos e irem para as ruas.

Foi o bastante para que a TL de Balbino no Facebook se tornasse um campo de ódio e de batalha de impropérios.

“Você matou seu filho”, escreveu Pablo Enriquez

“A lei do retorno é implacável, plantou ódio, colheu ódio. E ela foi certeira na sua vida, não teve como fugir. Ontem zombou de morte de uma mulher e de outras pessoas, hoje está chorando pela morte de um filho para salvar a economia. Triste realidade. A gripezinha levou o seu filho, gado. Põe na conta do seu ‘presijegue’ essa morte”, comentou Claudio Nunes.

Apoiar a estupidez e intolerância nunca deu certo e Manoel Balbino precisou assimilar isso da pior forma possível: pela dor da perda de um filho.

É fácil compreender a motivação dos ataques, principalmente quando se sabe que estamos sob risco de uma canetada oficial em documento que legitimará o crime contra a humanidade.

Mais fácil ainda ao verificar, na mesma página de Balbino e em resposta aos ataques, que muita gente permanece inflexível, desacreditando a letalidade do vírus.

Também funciona como gasolina atirada em fogueira os comentários de bolsonaristas pedindo compaixão, apelando para mais amor, “humanidade”.

É um contrassenso enorme, sem dúvida, esses apelos virem de quem apoia uma besta cruel e genocida.

Mas o mais revoltante é constatar como esse maldito nos tornou monstruosos.

Falo até por mim mesmo. Também já externei meu “foda-se” frente a possibilidade de minions morrerem pelo coronavírus. Bolsonaro trouxe o ódio, a desumanização, a raiva, o clima de revanche.

Contudo, sou pai. Não consigo imaginar castigo maior.

Balbino não é o demônio, é apenas um desinformado, ignorante, que caiu na lábia do satanás (acho que essa linguagem pode ser didática para esse pessoal, não me interpretem mal).

Não sei nem se ele tem condições de fazer associação entre seu posicionamento político e a consequência trágica que lhe arrancou um ente querido.

Quando o mundo vê o número de pessoas infectadas pela Covid-19 ultrapassar a casa de 1 milhão e os brasileiros observam Bolsonaro ameaçar derrubar as barreiras de distanciamento social com “uma canetada”, a esperança repousa em que apoiadores do bolsonarismo aprendam.

A ignorância é tão contagiosa quanto o vírus.