
O clima de tensão entre o governo federal e o Congresso Nacional segue sem solução, com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), cobrando gestos concretos do presidente Lula (PT) para normalizar as relações institucionais. Fontes próximas ao parlamentar afirmam que ele espera dois movimentos específicos da Presidência: o fim dos ataques ao Legislativo e a demissão do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
“Não adianta falar que vai conversar e segurar cartaz chamando o Congresso de inimigo do povo”, disse uma fonte próxima a Alcolumbre à jornalista Carla Araújo, do Uol, em referência ao protesto recente de Lula em Salvador, quando exibiu um cartaz com os dizeres “taxação dos super-ricos”.
O presidente do Senado tem feito coro ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), na crítica à postura do governo, que estaria adotando um discurso de “nós contra eles”.
O entorno de Alcolumbre avalia que Lula tem dado sinais contraditórios sobre sua disposição em resolver a crise. “O presidente tem que fazer o gesto de verdade”, afirmou um aliado do senador. A avaliação é compartilhada por ministros e parlamentares, que acreditam que nem o Executivo nem o Legislativo têm interesse em romper o diálogo definitivamente.

O caso Alexandre Silveira
Um dos pontos de atrito mencionados por Alcolumbre é a permanência de Alexandre Silveira no Ministério de Minas e Energia. Segundo relatos, o presidente do Senado já teria externado diversas vezes sua insatisfação com o ministro, chegando a insinuar suspeitas de irregularidades, embora sem apresentar provas concretas.
“Se ele fizer o gesto de tirar [o Silveira], com certeza isso agradaria muito [o Alcolumbre]”, afirmou uma fonte ao Uol. O assunto chegou a ser discutido no Planalto, onde auxiliares alertaram Lula sobre possíveis “problemas” envolvendo Silveira.
O presidente, no entanto, teria se irritado com as acusações sem fundamento e defendido o ministro, embora tenha dito que o demitiria se surgissem provas concretas.
Estratégia de comunicação do governo
Enquanto isso, o governo continua sua campanha pela reforma tributária, usando como mote a “justiça tributária e social”. O PT tem intensificado sua ofensiva nas redes sociais, utilizando inclusive vídeos produzidos com Inteligência Artificial que destacam as propostas para taxar bilionários, bancos e apostas esportivas (o chamado “BBB” – Bilionários, Bancos e Bets).
Essa estratégia, porém, é vista por muitos no Congresso como um aprofundamento do conflito entre os Poderes. “O dado concreto é que os interesses de poucos prevaleceram dentro da Câmara e do Senado, o que eu acho um absurdo”, disse Lula em entrevista à TV Globo Bahia, reforçando a narrativa de enfrentamento.
Perspectivas de diálogo
Lula anunciou que convocará Alcolumbre e Motta para uma reunião após a Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro. O presidente do Senado já sinalizou que “obviamente atenderá ao convite do presidente” e tem ressaltado seu histórico como “pacificador” durante sua gestão anterior na Casa.
Aliados do senador afirmam que ele deseja realmente resolver a crise, mas espera que o governo dê o primeiro passo com gestos concretos. “Ele quer pacificar essa crise”, disse um colaborador do senador, destacando que a normalização das relações seria benéfica para ambos os lados, especialmente em um momento em que o governo precisa do Congresso para aprovar suas principais pautas.