O que aprendemos com a lacração mal-sucedida de Maria Gadú. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 22 de janeiro de 2019 às 10:44
Maria Gadú discute com Túlio Gadêlha na internet

Essa foi a semana em que assistimos ao primeiro grande vexame da esquerda cirandeira no ano de 2019, ao vivo no Instagram – furem meus olhos, eu imploro.

Túlio Gadelha, Deputado e namorado de Fátima Bernardes, postou uma foto com sua amada e a legenda “namorada boa é aquela que tá contigo até na hora de ordenhar a vaquinha”.

Achei a legenda dúbia, no melhor dos sentidos (risos). Já Maria Gadú, aparentemente, achou muito problemática:

“Dois casos graves de machismo. Namorada boa é namorada que não se condiciona a especismo algum. (…) Vaca é feminino e mexer nas tetas também te coloca numa situação delicada. Sem contar as condições absurdas e cruéis. Vamos indo juntos até onde?”,

Calma, miga.

Respira.

Como se não bastasse a problematização vergonhosa, chegou Dado Dolabella nos comentários pra fechar com chave de ouro essa ciranda muitíssimo mal-frequentada: “Deixem os animais em paz!”

Quem chamou, gente?

O desconstruidão precursor do selo Dado “mais feminista do que eu?” é também conhecido por agredir mulheres e depois pôr a culpa na carne: “carnistas são violentos.”

Ah, tá.

Depois da repercussão do comentário, Dado se recolheu à sua insignificância e Gadu tratou de tirar o corpo fora: “era brincadeira”, disse em um post em seu perfil no Instagram, com um textão:  “Piada de internet, teste para ver o quanto as pessoas estão ‘louconas’. Aí você comenta uma parada e um monte de gente que não te conhece vem te xingar. Surreal. Rir que é bom, nada. É impressionante como as pessoas estão frágeis, né? Se responsabilizam por tudo, por todos, conferem, confiscam. Eu só observo. Está todo mundo na mão dessa internet invisível.”

Se o comentário foi mesmo uma piada, foi muito boa. Se não foi uma piada, foi melhor ainda: a problematização passando dos limites ao vivo e em cores, e não seria a primeira vez (como esquecer de Kéfera no programa da própria Fátima Bernardes lacrando em inglês?)

Aliás, se era mesmo uma brincadeira, não só a internet em peso levou a sério, como os mais envolvidos no caso, também.

Fátima postou, no mesmo dia, uma foto feliz ao lado de Túlio com a legenda levíssima: “Namorado bom é aquele que ri com você porque concorda que a gente só leva da vida os momentos felizes que vivemos. Salve o respeito e a leveza da alma nas redes e fora delas”, claramente em resposta ao comentário carrancudo de Gadú.

Primeiro se divorcia de um chato de galochas e namora um nordestino gato e cheio de humor, depois lança um pisão elegante desses: definitivamente, a Globo não merece a Fátima que tem.

Piada ou não, o caso tem o mesmo significado: passamos dos limites nas problematizações. E o grande problema nisso (opa, problematizei) é que, quando consideramos qualquer coisa problemática, nada é problemático. Se tudo é machismo, nada é machismo. Problematizar tudo não é só ser a chata do rolé: é desvirtuar e banalizar as próprias pautas.

E, sim, ”está todo mundo na mão dessa internet invisível”, e isso interfere diretamente em nossa vida offline: a falta de critério da militância de internet mais descompromissada com a agenda dos movimentos sociais foi e é um fator importante para o crescimento do anti-esquerdismo no Brasil (entre outros muitos fatores, é claro), e o limite entre a defesa de pautas coletivas e o respeito à vida privada tem sido frequentemente desrespeitado.

Se, nesse caso específico, foi só um “teste pra ver o quanto as pessoas estão louconas”, funcionou. As pessoas estão muito louconas mesmo.

Estranho seria se não estivessem.