O que aproximou Bolsonaro de Fabio Wajngarten foram os homens do dinheiro. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 17 de janeiro de 2020 às 9:05
Fabio Wajngarten e Bolsonaro, durante a campanha

A relação de Jair Bolsonaro com o chefe da Secretaria de Comunicação, Fabio Wajngarten, é anterior ao governo. Durante a campanha, em 2018, o atual secretário apresentou empresários para o então candidato.

No livro “Tormenta – O Governo Bolsonaro: Crises, intrigas e segredos”, a jornalista Thaís Oyama narra um encontro que houve na cobertura de Fabio Wajngarten, em São Paulo, com a presença de 62 empresários e de Bolsonaro.

Foi em 10 de agosto de 2018, época em que Bolsonaro aparecia na pesquisa Datafolha com 19% das intenções de voto e Lula, com 39%.

“O café da manhã na casa de Wajngarten foi cercado de discrição, já que alguns dos presentes eram visceralmente contra Lula”, escreve Thaís.

“Eles percebiam a ascensão de Bolsonaro, mas não queriam seus nomes associados ao candidato do PSL — ainda. Foram poucos os que não se opuseram a ter suas presenças divulgadas, entre eles Luciano Hang (Havan), Meyer Nigri (Tecnisa), Flávio Rocha (Riachuelo), Sebastião Bonfim (Centauro), Bráulio Bacchi (Artefacto) e José Salim Matar (Localiza)”, acrescenta.

Foi nessa reunião que o general Augusto Heleno, num momento em que estava distante de Bolsonaro, falou por telefone sobre o candidato.

“O cara não sabe nada, pô! É um despreparado”, comentou, sem saber que atrás dele uma pessoa o gravava com o celular. As imagens, segundo Thaís, foram enviadas a Bolsonaro, que ensaiou cobrar explicações, mas acabou desistindo.

Bolsonaro teria ficado “mais embaraçado do que furioso ao saber que o militar o achava ‘despreparado’”.

O encontro em sua cobertura mostra a influência de Fabio Wajngarten na construção da candidatura de Bolsonaro. Ele já era apontado como a ponte entre Bolsonaro e a comunidade judaica.

Reuniões de políticos com empresários são sempre descritas pela imprensa como de natureza informativa, ou seja, os empresários participam para ouvir as propostas  do candidato.

No mundo real, se sabe que não é bem assim. O candidato fala de suas propostas, mas o que ele quer mesmo é que os empresários coloquem a mão no bolso.

No caso de Bolsonaro, há a suspeita de que caixa 2 bancou os disparos de mensagens em massa pelo WhatsApp. Foram os empresários reunidos por Wajgarten que bancaram esses disparos?

Não é possível afirmar. O que se sabe é que Luciano Hang, na época, divulgou um vídeo ao lado de Bolsonaro em que fala em gravar “mais um vídeo” e “fazer o disparo”.

Fabio Wajngarten também estava no avião-UTI que, em setembro de 2018, levou Bolsonaro de Juiz de Fora para São Paulo, depois do episódio da facada de Adélio Bispo de Oliveira.

Wajngarten assumiu a Secretaria de Comunicação em abril do ano passado, quatro meses depois da posse.

Ele manteve 95% das cotas da empresa FW Comunicação e Marketing, de monitoramento de mídia — os outros 5% estão em nome de sua mãe.

Deixou para administrar a empresa Fábio Liberman, cujo irmão, Samy, seria nomeado por Fabio Wajngarten para ocupar o posto de número 2 da Secom.

Como chefe da secretaria, Wajngarten já teve pelo menos 67 encontros com clientes e ex-clientes da sua empresa, entre os quais representantes das emissoras e afiliadas de TV Record, SBT, Band e Rede TV!

Todas essas empresas de comunicação tiveram verbas aumentadas na gestão de Wajngarten na Secom, ao mesmo tempo em que pagam por serviços da empresa privada de Wajngarten.

Bolsonaro decidiu que vai mantê-lo no cargo. “Pelo que vi até agora, está tudo legal, vai continuar. Excelente profissional”,afirmou.

Quando um repórter da Folha de S. Paulo perguntou a ele sobre a permanência de Wajngarten na Secom, ele disse:

“Você está falando da tua mãe?”.

Não, o repórter estava falando de moralidade pública, assunto de que Bolsonaro foge.