O que as postagens no Facebook dizem sobre o diretor da Globo que está me processando. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 7 de fevereiro de 2016 às 9:35
Jornalismo à Bretas
Jornalismo à Bretas

Queria entender melhor o conceito de imprensa livre de Erick Bretas, o diretor da Globo que está me processando por criticá-lo.

Disse já e repito: não inventei nada naquilo que escrevi sobre ele. Não invadi vida pessoal, não criei episódios constrangedores – não fiz nada, enfim, além de dar minha opinião sobre coisas que ele postara no Facebook.

Minha análise cabe numa linha: é um mau jornalista. Não tem o menor equilíbrio para praticar jornalismo, dado o seu antipetismo estridente e militante.

Voltei a ver suas postagens depois que soube do processo, para ver se podia desvendar o que é aceitável, para ele, em termos de críticas.

Ora, ora, ora.

Se um homem é aquilo que compartilha nas redes sociais, Bretas é um homem quando criticado e outro quando ataca, ou transmite ataques.

O que mais me chamou  a atenção, no Facebook recente de Bretas, foi o compartilhamento de um texto de Augusto Nunes, do site da Veja.

Augusto Nunes é conhecido por chamar Lula de “presidente retirante”, Lula de “dois neurônios” e Evo Morales de “lhama de franja”. Isso para não falar das repetidas vezes em que ele chama adversários de seus patrões de bandidos, criminosos, ladrões – sem outras provas que não sejam a própria Veja.

Bretas deve aprovar tudo isso, para ler e compartilhar Nunes. No artigo que ele dividiu há poucos dias com os seguidores no Facebook, Nunes investiu, como sempre, contra Lula.

O tema é uma funcionária do Santander demitida na campanha presidencial passada depois de enviar a correntistas uma carta associando a eleição de Dilma a riscos econômicos. (O Santander alegou que por regra os funcionários estão impedidos de se manifestar em nome do banco em questões políticas e partidárias.)

É desse episódio que Nunes trata. A Justiça concedeu indenização a Synara, mas o Santander recorreu e as coisas ainda estão por se definir.

Um trecho:

“ … num encontro noturno organizado pela CUT em Guarulhos, Lula acionou o tresoitão. No vídeo, andando de um lado para o outro, o copo até aqui de cólera abre o numerito repulsivo cobrando gratidão do banco presidido pelo amigo Emílio Botín. “Não tem lugar no mundo onde o Santander esteja ganhando mais dinheiro que no Brasil”, rosna o animador de comício, que em seguida recorda conversas e episódios que reduziam o banqueiro espanhol a um bajulador grávido de admiração pelo Lincoln de galinheiro.”

Lula não fala: “rosna”.  Não é um ex-presidente: é um “animador de comício”, um “Lincoln de galinheiro”.

Pouco adiante, Nunes continua: “Lula e seus sequazes acham que, numa campanha eleitoral, o único crime é perder. O resto pode. Matar a mãe, por exemplo. Ou afanar a poupança da avó.”

Quer dizer então: no Planeta Bretas, isso pode e merece até ser divulgado.

Captura de Tela 2016-02-07 às 12.30.45

Mas criticá-lo por convocar para manifestações pelo impeachment, colocar o avatar de Helio Bicudo em sua conta e militar pelo golpe contra 54 milhões de votos – isso não pode. É questão de processo.

Importante: minhas críticas se deveram à posição estratégica de Bretas na Globo. Meu objetivo era mostrar como está envenenado o clima no jornalismo da Globo nas questões de política.

Bretas é um retrato acabado da mentalidade dos jornalistas que dirigem a Globo e, mais que isso, da própria Globo. (Se a Globo tivesse qualquer problema com suas postagens, teria conversado com ele.)

Outras postagens de Bretas são também reveladoras. Ele reproduz um meme do MBL em que acusa Dilma de só liberar verba para uma escola em troca de votos contra o impeachment.

Inacreditavelmente, ele ajunta uma explicação que conta tudo sobre o jornalista que é. Bretas informa que só postou o meme depois de confirmar a autenticidade.

Ora, ora, ora.

Vejamos a confirmação. O vice-prefeito de Belo Horizonte, diz Bretas, denunciou Mercadante por “chantagear”.

Quer dizer: no Planeta Bretas, denúncia contra os inimigos é fato, antes mesmo que os acusados façam a defesa.

E o nome que ele usa em sua confirmação é o de Mercadante. Mesmo assim, ele se sentiu autorizado a publicar um meme com a imagem de uma Dilma sórdida. Não vou sequer perguntar se as denúncias contra Aécio merecem a mesma credulidade cega.

Você pode imaginar o nível do jornalismo político da Globo pelas postagens levianas, militantes, desvairadas de Bretas.

Ele não está sozinho. É parte de um todo.

E sou eu o processado.

LEIA TAMBÉM: O estranho processo que um diretor da Globo está movendo contra mim