O que diferencia o machismo de Trump do machismo de Aécio? Por Nathalí Macedo

Nosso Trump

O tocante vídeo da campanha de Hillary Clinton para a presidência dos Estados Unidos tem a clara intenção de escancarar a misoginia de seu concorrente Donald Trump.

No vídeo, imagens de mulheres olhando-se no espelho são mescladas com vídeos do próprio Trump disparando absurdos machistas.

Ponto para ela. Hillary, como sabemos, não está para brincadeira. Não à toa é advogada: Sabe persuadir tocando na fraqueza de seu adversário com maestria. A mulher estado-unidense que assistir ao vídeo em questão e continuar a sentir-se motivada a votar em Trump, ou é muito burra ou não tem o menor amor por si mesma.

Está claro como água que Trump odeia as mulheres, assim como deveria, no Brasil, ter estado claro o machismo e a misoginia de Aécio Neves, o candidato golpista-sempre-em-segundo, mas, neste ponto, devemos confessar: o marketing da Presidenta eleita falhou.

Por que não tivemos um vídeo como este no Brasil? Por que a Presidenta não falou, ao vivo e em cores, que seu então adversário é machista, misógino, acusado de agredir a esposa e conhecido por tentar diminuir sua oponente chamando-a de desequilibrada?

O que, afinal, difere Aécio de Trump? Em termos de machismo, absolutamente nada, eu diria – a não ser o fato de Aécio saber disfarçar melhor do que Trump a própria misoginia.

No debate presidencial da Band, ele disse que as mulheres deveriam ter um salário “mais próximo” (não igual) aos homens. Referiu-se às mulheres como “senhoras donas de casa” (?) e dirigia-se à Presidenta eleita com um ar de deboche e cinismo que nenhuma feminista será capaz de esquecer (é o mesmo ar de deboche com que nos olham nossos algozes quando querem nos diminuir, e, portanto, conhecemo-lo bem.)

Chamava-a de ignorante e desequilibrada – uma mulher que posiciona-se com dureza é sempre dita desequilibrada – e sorria para seus eleitores tucanos que receberam-na com um coro de “Vaca! Vaca! Vaca!”. Isso sem falar nas acusações de violência física contra sua então namorada e atual esposa.

Nós temos muitos Trumps – Bolsonaro, Feliciano, Serra – mas Aécio vence pelo cinismo.

E a Presidenta eleita perdeu a oportunidade – ainda está em tempo! – de desmascará-lo para o país inteiro. De chamá-lo, naquele debate na band e em tantas outras oportunidades, de machista, misógino e arcaico, porque é isso que ele é.

De uma coisa não há dúvida: Aécio, o machista mau perdedor, voltará. E assim como as estado-unidenses, as brasileiras precisam ter a oportunidade de saberem, para que jamais restem dúvidas, com quem estão lidando.

Nathalí Macedo

Escritora, roteirista, militante feminista, mestranda em Cultura e Arte. Canta blues nas horas vagas.

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Nathalí Macedo

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