O que é o “homem performático” — e por que ele virou meme nas redes sociais

Atualizado em 6 de outubro de 2025 às 7:19
Homens performáticos em exposição

Ele carrega ecobags, toma matcha latte gelado, usa fones com fio, lê Sally Rooney, adora Labubus e cita feminismo — mas, no fundo, tudo não passa de encenação. O chamado homem performático (em inglês, “performative male”) tornou-se o mais novo fenômeno cultural e meme nas redes sociais.

O termo designa o homem que adota uma estética progressista para parecer atraente a mulheres feministas e modernas, sem necessariamente compartilhar seus valores. Em outras palavras: é o oposto do esquerdomacho — mas só na aparência.

O estereótipo é fácil de reconhecer: ele lê Joan Didion ou alguma outra autora feminista num café hipster enquanto bebe seu latte gelado de matcha, veste calças largas, carrega uma ecobag com um Labubu pendurado e ostenta um ar de “sensível”. Raramente se aprofunda em qualquer tema.

Epidemia performática

O fenômeno virou tendência global — e motivo de deboche. Vídeos no TikTok com a hashtag #performativemale já ultrapassaram 28 milhões de visualizações, enquanto o termo “performativo” tem mais de 149 milhões.

Usuárias compartilham flagrantes de homens performáticos pelas ruas, enquanto outras imaginam como seria namorar um.

Em julho, Nova York sediou um concurso sobre o assunto e até Jacarta, na Indonésia, teve sua própria versão. Várias cidades ao redor do mundo embarcaram na onda.

“Isso me lembra os posers dos anos 1990 e 2000 — caras que fingiam ser algo que não eram para parecer descolados”, diz Casey Lewis, escritora e pesquisadora da cultura digital da Geração Z.

De Judith Butler ao TikTok

O termo “performático”, que nasceu na teoria de gênero da filósofa Judith Butler, perdeu sua densidade acadêmica e virou gíria pejorativa. Hoje, ser “performático” significa agir de forma artificial para ganhar aprovação moral ou social, principalmente online.

Durante a pandemia e o auge do movimento Black Lives Matter, o termo passou a ser usado para criticar ativistas de fachada — e, agora, aplica-se também a homens que performam feminismo para conquistar simpatia.

Para o consultor de tendências Tony Wang, há um componente de humor e autodefesa no comportamento. “É uma forma metairônica. Ele pode dizer: ‘estou sendo irônico, não leve a sério’. É uma armadura”, disse ao New York Times.

Nas redes, muitos “homens performáticos” abraçam a caricatura: postam vídeos lendo livros de cabeça para baixo, exibem suas coleções de vinis e exageram nos acessórios. Em concursos, eles respondem perguntas sobre feminismo e direitos das mulheres — muitas vezes sem saber o básico.

O vencedor de uma competição em Seattle levou para casa o livro “A Vontade de Mudar”, da escritora feminista bell hooks — ironicamente, um clássico sobre homens que buscam se libertar do machismo de forma sincera, e não performática.

Davi Nogueira
Davi tem 25 anos, é editor e repórter do DCM, pesquisador do Datafolha e bacharel em sociologia pela FESPSP, além de guitarrista nas horas vagas.