O que é, para que serve e quem financia o site de difamação Folha Política?

Atualizado em 22 de abril de 2015 às 16:35

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O furo de reportagem do jornal Folha de S.Paulo, dos repórteres Ricardo Mendonça e Lucas Ferraz, mostrou como o advogado Fernando Gouveia fatura pelo menos 70 mil reais por mês do governo Geraldo Alckmin. Gouveia, que é conhecido pelo pseudônimo Gravataí Merengue, utilizou parte dos recursos para alimentar seu blog antipetista O Implicante.

A prática do advogado na rede, com passado vinculado a outros políticos, não é nova e é feita por inúmeros outros blogs. Muitos deles sem sequer um autor para assumir a responsabilidade pelos atos e pelos ataques promovidos.

Este é o caso da Folha Política. Criado em fevereiro de 2013, o site normalmente não tem autores e nem sequer um email de contato disponível, exceto a caixa de mensagens da fanpage no Facebook. Registrado em um domínio .org, se define como uma organização para debate político. Para quem?

As notícias da Folha Política são um cópia e cola de outros sites jornalísticos, especialmente Folha e Estadão. No entanto, diferente das boas práticas na internet, o site não identifica a origem das informações. Dois nomes aparecem como responsáveis: Luciana Camargo e Lígia Ferreira. Não há um expediente que explique quem é a editora da maioria dos artigos ou quem apura as informações. Não há uma descrição sobre o que é o site, exceto que sua cobertura é “isenta”.

Quando assinam artigos, as duas autoras agem de formas diferentes. Luciana veicula conteúdos dos colunistas e comentaristas da revista Veja, como Reinaldo Azevedo e Joyce Hasselmann. Lígia se descreve como analista de “sócio-mecanismos” e foi criticada no YouTube por um vlogueiro do setor automotivo chamado Alexandre “ADG High Torque”, de Belo Horizonte. O autor de vídeos contestou o caráter “isento” do Folha Política, o que resultou numa tréplica enorme.

Lígia Ferreira se vangloria de ter muitos seguidores e milhares de visualizações. Folha Política de fato tem mais de um milhão de likes no Facebook. Consegue isso, no entanto, apenas replicando, adulterando ou distorcendo notícias contra o governo petista.

Quanto aos números, o site tem entre 500 e mil curtidas em cada postagem. As revistas Época e IstoÉ, que tem informações chupinhadas da Folha Política, conseguem um número de likes dobrado ou triplicado quando trazem dados originais tendo a mesma quantidade de público. Provavelmente a página compra fãs do Facebook para conseguir visibilidade – o que é legal – ou se espalhando através de grupos privados antipetistas, como o Comando de Caça aos Corruptos, cujo nome é uma referência ao CCC, o Comando de Caça aos Comunistas.

É um serviço de difamação. A mesma coisa ocorre com o Implicante de Gravataí Merengue. Com o agravante do anonimato.

A construção dos textos da Folha Política é tão tosca que eles publicaram, em 22 de dezembro de 2013, um artigo afirmando que o diretor do Diário do Centro do Mundo, Paulo Nogueira, escreve na revista Carta Capital e elegeu a filha de José Genoino, Miruna, como a personalidade do ano.

A autora da Folha Política já deveria ter corrigido este equívoco, mas, se não tem cuidado com os fatos, ela vai ter cuidado com outros detalhes? Claro que não.

No DCM há transparência sobre cada um dos autores. Em nossos perfis, nós contamos quais foram os locais onde os jornalistas trabalharam e fazemos uma extensa pesquisa antes de publicar artigos.

Existe alguma ideia por trás da Folha Política? Se não sabemos nem ao certo quem escreve, o espaço é propício para se plantar textos tendenciosos com aparência de neutros. O anonimato é um direito na internet, mas dentro de uma publicação ele só contribui para obscurecer sua própria mensagem.

Quando é descoberto que estes veículos estão sendo financiados por um governo ou por um partido, eles devem ser expostos para a sociedade. Enquanto isso não acontece, a desinformação corre solta.

Esses conteúdos são divulgados maciçamente por redes sociais como o Facebook e o Twitter. Muita gente clica supondo que são verdadeiros. Se a mídia tradicional deve ser questionada, esses sites picaretas também.

Cabe a nós, jornalistas, desmascarar as fontes de financiamento e questionar as formas como os dados são mostrados ao público.