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O que está por trás da candidatura política de extremistas do MBL. Por José Cássio

Os rapazes do MBL

 

Se em junho de 2013, quando surgiram na aba das manifestações comandadas pelo Movimento Passe Livre, os grupos de extrema direita buscavam distância dos partidos políticos, agora a estratégia mudou: a ordem é aliar-se a eles.

Visando ampliar seu espaço de poder, o Movimento Brasil Livre (MBL), liderado por Kim Kataguiri, pretende lançar pelo menos uma centena de candidatos pelos 23 estados nas eleições municipais deste ano. Evidentemente os partidos escolhidos são de oposição ao PT e professam a doutrina liberal, como PSDB, DEM, PSD, PSC, PPS e Partido Novo.

Ronald Tanimoto, arquiteto e coordenador estadual do MBL, abandonou o ideário socialista do PSB, partido pelo qual disputou a eleição em 2004 e obteve 316 votos, para cerrar fileiras na social-democracia.

Embora faça suspense, e deixe fazer parecer para 11 entre dez jornalistas de política em Campinas, assinou com o Democratas e se prepara para disputar uma vaga na Câmara de vereadores da cidade.

Pertinho dali, na pequena e próspera Vinhedo, seu colega Rubens Nunes, advogado e coordenador nacional do mesmo MBL, também quer uma cadeira na Câmara, ainda que esconda a sete chaves o partido – o prazo de filiação para quem pretende concorrer em outubro se encerrou nesta segunda, 4.

Tanto Ronald quanto Rubens já têm traçada a estratégia para chegar lá: abraçar Kim Kataguiri e pedir voto em nome do livre mercado, das privatizações e do fim da corrupção.

Kataguiri não será candidato mas vai fazer o trecho: quer viajar pelo país pedindo apoio aos candidatos do MBL.

É a mesma estratégia do outro movimento que tenta se afirmar como bastião do conservadorismo mais atrasado e que também floresceu na sombra dos protestos liderados pelo MPL.

O Vem Pra Rua, de Rogério Chequer, uma espécie de Mara Gabrilli de calças, pela demagogia e também por ser incensado pelo mesmo mentor, José Serra, aposta no impeachment de Dilma para bombar Johnny Santos, que se filou ao PPS para tentar a sorte em Goiânia.

Rogério Chequer, como seu irmão siamês de olhos puxados, também não vai se candidatar.

Ambos, MBL e Vem Pra Rua, trabalham com a idéia de criar uma bancada de mandatários influente, mas sem compromissos partidários – por isso a distribuição dos candidatos por diversas siglas.

“Estamos nos filiando a esses partidos para disputar a eleição, mas com o propósito de, à exemplo dos evangélicos, formarmos uma bancada liberal independente”, diz Kin Kataguiri.

O MBL foi criado oficialmente no final de 2014 com o objetivo inicial de derrubar a presidente Dilma Rousseff. 

Kataguiri chegou a estar lista dos 30 jovens mais influentes da revista norte-americana Time e ganhou coluna semanal na Folha – salário de R$ 15 mil, segundo se especula.

Outra liderança importante do MBL é Fernando Holiday. Ele me contou que vai disputar uma vaga de vereador em São Paulo pelo DEM.

Holiday despontou gravando vídeos e logo foi levado ao MBL. Negro, pobre e homossexual, o rapaz gera controvérsias ao se posicionar contrário às cotas raciais e fazer uso do discurso meritocrático – além, obviamente, dos ataques a Cuba e ao comunismo do PT.

O Vem Pra Rua também foi criado em 2014. Composto majoritariamente por empresários, surgiu da insatisfação desse pessoal com os rumos da economia.

Nesta semana o movimento instalou, ao lado do prédio da Fiesp, na avenida Paulista, o “Muro da Vergonha” onde é possível avistar parlamentares indecisos ao impeachment, que devem ser pressionados pela população, e contrários ao processo. 

Num cartaz mais do que inconveniente, o grupo afirma que o único “atestado que aceitamos para quem faltar no dia do impeachment será o de ÓBITO” – assim mesmo letras grandes. 

Apesar de pedirem transparência do governo e o fim da corrupção, os movimentos não são claros quanto aos próprios recursos. Recolhem dinheiro de maneira informal com a venda de bugigangas ou a partir de doações em contas de pessoas físicas.

O MBL disse que gastou R$ 28 mil na última manifestação pelo impeachment. O Vem Pra Rua se negou a dar detalhes sobre gastos e doadores.

Para bancar seus candidatos em outubro, considerando a lei que impede o financiamento privado, não se sabe como vão fazer: comer na mão dos líderes dos partidos (Fernando Holiday, por exemplo, terá de conversar com feras como Milton Leite e Sandra Tadeu, mulher de Jorge Tadeu Mudalén) ou financiar a correria com recursos próprios.

O cenário que se desenha nas Câmaras Municipais a partir do ano que vem não chega a ser, assim, alentador. Pelo menos para quem enxerga a política como um movimento de setores da sociedade em permanente conflito para ver quem consegue melhor conduzir a agenda pública.

Como anunciam os jovens que se apresentam como as grandes novidades, e nos ensinam os parlamentares das bases evangélicas, em quem eles se inspiram, a nova lei da selva é o cada um por si.

O ideário da ação coletiva, e alicerçado em princípios partidários, virou coisa do passado. Salve-se quem puder.

Jose Cassio

JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo

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