O mesmo que estava por trás das bombas de Boston: a revolta contra a presença ocidental em países como o Afeganistão.
DE LONDRES
As mortes de Boston e Londres têm a mesma origem: a revolta torrencial dos islâmicos contra a presença de tropas ocidentais em países como Afeganistão, Paquistão e Iraque.
O ódio motivou, há algumas semanas, os irmãos a explodir bombas na maratona de Boston. Ontem, o ódio motivou dois muçulmanos a matar a golpes de faca e machete um soldado em Woolwich, um bairro no sudeste de Londres.
Os dois episódios, nos quais não há sinal de envolvimento de grupos sofisticados como a Al Qaeda, sugerem que o sentimento de revanche chegou aos islâmicos sem filiação a nenhuma organização.
A reação tende a ser de recrudescimento da islamofobia, o sentimento europeu e americano de repulsa aos islâmicos.
Isso não vai ser nada produtivo.
A reação inteligente é eliminar a causa da revolta. Isso quer dizer: as tropas americanas e aliadas têm que abandonar o quanto antes os países que têm sido objeto de brutal predação ocidental.
A cena de ontem foi uma aula magna sobre o tema.
Dois jovens muçulmanos atacaram com armas primitivas, à luz do dia e em plena rua, um soldado britânico perto de um quartel.
A polícia demorou vinte minutos a chegar ao local. Antes que os policiais aparecessem se formou uma pequena multidão para ver o que estava acontecendo.
As pessoas tiraram fotos e fizeram vídeos com seus celulares, e então é possível reconstruir com riqueza o caso.
Uma senhora desceu de um ônibus e foi verificar se ainda podia fazer alguma coisa pela vítima, no chão.
Logo viu que não podia.
Depois, num gesto de bravura, ela conversou com um dos agressores. O homem segurava uma faca enorme, e tinha as mãos ensanguentadas, e a mulher não recuou.
Ele disse que lamentava que as mulheres ali presentes tivessem presenciado uma cena tão violenta, mas acrescentou que em seu país são constantemente mortas mulheres e crianças por forças ocidentais.
A mulher avisou que a polícia logo chegaria, e perguntou se poderia fazer alguma coisa por ele.
Não havia nos dois agressores nenhuma intenção nem de fugir e nem de atacar ninguém além do soldado.
Então a mulher regressou ao ônibus, que partia, e os dois islâmicos esperaram a polícia, para dar seguimento “à guerra”.
Logo foram baleados e encaminhados a dois hospitais diferentes, um deles em estado crítico.
O Serviço Secreto inglês teme, mais que ações de grupos organizados, ataques como o de ontem, porque surgem do nada.
O governo Cameron estuda o que fazer para responder ao que está sendo chamado de “terrorismo”.
Nenhuma resposta será tão eficaz quanto recolher as tropas que infernizam os países islâmicos e geram um ódio que, como se viu antes em Boston e agora em Londres, é incontrolável.