O que está por trás do caso do massacre dos 43 estudantes no México?

Atualizado em 8 de novembro de 2014 às 9:32

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Publicado na BBC Brasil.

 

O procurador-geral do México, Jesus Murillo, anunciou na madrugada deste sábado que os 43 estudantes desaparecidos desde setembro foram mortos por uma gangue de traficantes. A informação, foi obtida no depoimento três supostos integrantes da Guerreiros Unidos detidos pela polícia na cidade de Iguala, no sul do país.

Em entrevista coletiva em Cidade do México, a capital do país, Murillo disse ainda que os bandidos admitiram a participação de policiais aliciados pelo tráfico na operação. Os estudantes teriam sido entregues à gangue pela própria polícia, depois de serem presos em 26 de setembro durante um protesto em Iguala, no Estado de Guerrero.

No protesto, violentamente interrompido pela polícia, morreram seis estudantes.

Murillo forneceu detalhes estarrecedores sobre o caso. Pelo menos 15 dos desaparecidos já teriam sido entregues mortos por asfixiamento pela polícia aos traficantes, que então fuzilaram o restante antes de queimar os corpos.

O procurador-geral também exibiu os vídeos com a confissão dos integrantes da gangue.

Conluio

Murillo afirmou ainda que a identificação dos corpos será um processo longo, já que os traficantes queimaram os corpos por mais de 12 horas antes de atirar seus restos mortais num rio em sacos plásticos. Os estudantes continuarão considerados oficialmente desparecidos até a conclusão dos exames de DNA.

Os restos mortais ficaram tão carbonizados que será preciso enviar amostras para experts na Áustria para ajudar na identificação. Parentes dos estudantes, porém, viram na falta de identificação formal dos corpos uma esperança.

“Enquanto não houver um resultado oficial das investigações, nossos filhos continuam vivos”, disse Felipe de la Cruz, pai de um dos desaparecidos.

Ele criticou o que chamou de uma tentativa do governo mexicano de encerrar de forma apressada a investigação.

Nas últimas semanas, diversas covas clandestinas foram encontradas em Iguala, mas até o anúncio deste sábado não havia uma relação direta com o caso dos estudantes.

Provenientes da Escola Normal Rural Raul Isidro Burgos, em Ayotzinapa, no Estado de Guerrero – conhecida entre militantes de esquerda como uma espécie de “celeiro de guerrilheiros” por conta de sua orientação socialista -, o grupo tinha ido às ruas de Iguala em busca de verbas e transporte para participar de manifestações na Cidade do México marcando o aniversário do Massacre de Tlatelolco, em 1968, quando entre 200 e 300 estudantes foram mortos pela polícia durante um protesto.

Depois de enfrentamentos com as forças se seguranças, os estudantes foram vistos pela última vez sendo colocados em veículos policiais.

Desde então, o caso ganhou repercussão internacional, com governos e entidades pedindo uma investigação rigorosa ao presidente mexicano, Enrique Peña Neto. O presidente despachou a Polícia Federal para assumir a segurança de Iguala. Houve vários protestos no México, incluindo novos violentos enfrentamentos em Iguala.

O caso provocou a renúncia do governador Angel Aguirra, no último dia 23. Mas a situação mais complicada é a do prefeito licenciado de Iguala, José Luís Albarca.

Policiais de Iguala afirmaram que o prefeito deu ordens para a violenta repressão ao protesto dos estudantes para que eles não interrompessem um comício que sua esposa, Maria Piñeda, faria na cidade no mesmo dia.

Piñeda, segundo informações da mídia mexicana, preparava-se para lançar candidatura à prefeitura nas eleições do ano que vem.

Albarca pedira licença do cargo em 30 de setembro e fugiu com a mulher em 22 de outubro quando um mandado de prisão foi expedido contra ambos. O casal estava foragido até a última terça-feira, quando foi preso em Cidade do México.

No total, mais de 70 pessoas, a maior parte deles policiais, foram presas em conexão com o desparecimento.

Falando na sexta-feira, o presidente mexicano novamente prometeu “levar todos os responsáveis à Justiça”.