O que está por trás do outdoor que o procurador Castor de Mattos financiou com elogio à Lava Jato. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 26 de agosto de 2019 às 20:17

O depoimento do suposto hacker Walter Delgatti Neto joga um pouco de luz sobre o nebuloso afastamento do procurador Diogo Castor de Mattos da Lava Jato, em abril deste ano.

Disse o suposto hacker:

“QUE dentre as conversas registradas pode citar assuntos relacionados ao Procurador da República DIOGO CASTOR, que foi afastado por ter financiado um outdoor em Curitiba/PR.”

O outdoor, como registra nota publicada na revista Época, fazia elogios à força-tarefa, com uma foto dos procuradores.

“Bem-vindo a República de Curitiba – terra da Operação Lava Jato – a investigação que mudou o país. Aqui a lei se cumpre. 17 de março, cinco anos de Operação Lava Jato – O Brasil Agradece”.

Castor de Mattos deixou a operação e na época a força-tarefa disse que era por recomendação médica, em razão de estafa.

Agora se sabe que era mentira. Até os colegas da Lava Jato acharam que ele tinha exagerado e provocado uma situação de conflito de interesses.

O áudio que o suposto hacker mandou para Manuela D’Ávila, com uma conversa entre os procuradores Orlando Martello e Januário Paludo, pode estar relacionado a esse episódio.

Pelo menos um membro da família Castor de Mattos tem, particularmente, motivo para reconhecer os benefícios que a Lava Jato lhe trouxe.

É Rodrigo Castor de Mattos, irmão do procurador, advogado dos delatores João Santana e Mônica Moura, marqueteiros das campanhas de Lula e Dilma.

Ele se tornou formalmente advogado do casal em abril de 2017, um mês depois da homologação do acordo dos dois.

Mas há um indício de que seu escritório atuava por baixo dos panos antes. Trata-se de uma ata notarial apresentada como prova de colaboração.

Quem lavrou a ata, em nome de Mônica Moura, foi um estagiário do escritório de Rodrigo Castor de Mattos.

Em agosto de 2017, depois do acordo de delação homologado, Sergio Moro mandou liberar 10 milhões de reais dos 28,7 das contas do casal de marqueteiros que estavam bloqueados.

Um dos motivos alegados era a necessidade de usar o dinheiro para pagar honorários advocatícios, entre eles o de Rodrigo, cabeça da equipe.

Quanto dos 10 milhões ficaram com o escritório da família do procurador? É uma informação que o advogado Rodrigo não dá, já que se recusa a dar entrevista.

Há um outro membro da família do advogado que também atua na Lava Jato, no lado público do balcão da justiça. É o procurador regional Maurício Gotardo Gerum, lotado na Tribunal Regional Federal da 4a. Região.

Gotardo Gerum é primo em primeiro grau de Rodrigo e Diogo, atuou nos recursos de João Santana e de Mônica Moura, além de ser o autor do parecer pela condenação de Lula na segunda instância.

A defesa do ex-presidente pediu seu afastamento da Lava Jato por suspeição, mas ele se recusa a deixar os casos relacionados à operação.

Gotardo Gerum é filho do irmão de Maria Cristina Jobim Castor de Mattos, viúva de Delívar Tadeu de Mattos, pais de Rodrigo e de Castor.

A família Castor de Mattos é influente e poderosa na sociedade curitibana.

Delívar foi procurador de justiça e a mulher é irmã de Belmiro Jobim Castor, ex-diretor do Bamerindus, ex-secretário do Paraná por diversas vezes entre os anos 1970 e 1980 e integrante do Conselho Superior da Associação Comercial do Paraná, conforme registrou a agência Pública na reportagem que tratou da presença de um Castor de Mattos como acusador e outro como defensor.

No outdoor que patrocinou com elogio à operação, Diogo Castor de Mattos disse que o Brasil agradece pela Lava Jato.

Há quem, de fato, seja grato à operação que, com investigação seletiva, desestabilizou a democracia no país e contribuiu decisivamente para a retirada de um projeto popular do governo, abrindo espaço para a eleição de Jair Bolsonaro e a ascensão de Moro.

Mas seria muita ingratidão se os Castor de Mattos não reconhecessem, particularmente, os benefícios da Lava Jato.

Para os demais, espera-se que o áudio de Januário e Martello, quando divulgado, ajude a esclarecer o nebuloso afastamento do procurador Diogo.

Manuela D’Ávila, por enquanto, não quer dizer nada além do que está na nota divulgada ontem, na qual confirma ter sido procurada por um suposto hacker com pedido para entrar em contato com Glenn Greenwald, fundador do Intercept.

Os Castores e o casal Santana. Arte publicada no GGN

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Reportagem publicada originalmente em 27 de julho de 2019, republicada agora, quando áudios dos procuradores foram divulgados, dentro da série Vaza Jato.