
Estou chegando ao fim da série The Killing, uma produção dinamarquesa que, como o nome sugere, gira em torno de um crime. Uma estudante de 19 anos é assassinada com crueldade. Quem investiga o caso é a detetive Sarah Lund, que hoje é cultuada na Inglaterra, onde a série passa na BBC. Sarah, vivida pela atriz Sofie Grabol, é uma inspiração para toda mulher na faixa dos 40. Poucas jovens de 20 anos se equiparam em graça e beleza natural a ela. Cabelos quase sempre presos num rabo de cavalo, maquiagem nenhuma, vestida invariavelmente de jeans e agasalho, olhos claros, ela enfeitiça os espectadores heterossexuais.
Vi, com Camila, minha caçula, 17 dos 20 episódios da primeira temporada. Até aqui, 10 com louvor. Um capítulo empurra você para o outro. (Erika, minha namorada, aka Kazumi3, viu tudo praticamente num só fim de semana.)
Mas a maior prova está por vir: o final.
Em qualquer história policial, o assassino faz a diferença. Ele tem que surpreender o público. Para isso, é vital que ele tenha relevância na história. Ou então parece que foi feita uma gambiarra. Ninguém fez isso melhor que Agatha Christie. Em seu ponto mais alto, O Assassinato de Roger Ackroyd, Agatha Christie fez do narrador o assassino, uma inovação espetacular. Não é à toa que ela é considerada o maior nome na literatura policial.
O Xangô de Baker de Street, romance policial de Jô Soares amplamente adulado pela crítica, morria exatamente na fraqueza do culpado. Escrevi uma resenha centrada nesse ponto na Exame, e a resposta que obtive foi um telefonema intimidador de Jô Soares que foi acompanhado por várias pessoas da redação. O principal argumento de Jô contra meu texto era a alegada amizade com meus chefes. Isso deveria, pela lógica dele, fazer com que eu aderisse à manada e elogiasse um livro medíocre.
Pelo alto padrão de The Killing, imagino que o final não será frustrante.
Se for, faço um texto desdizendo tudo de bom que falei sobre a série – tirados, é claro, os aplausos para a graça quarentona de Sarah Lund.