
O advogado Paulo Cunha Bueno, que defende o ex-presidente Jair Bolsonaro no julgamento da suposta trama golpista, encerrou sua manifestação no Supremo Tribunal Federal (STF) comparando o processo ao caso Dreyfus, um dos maiores escândalos jurídicos da França no fim do século 19. Para ele, “faltam elementos que possam imputar ao presidente Jair Bolsonaro os delitos que lhe são direcionados”.
O defensor citou o caso para acusar a Corte de fazer um julgamento de caráter “político”. Senhores ministros, não permitamos em hipótese alguma criarmos neste processo uma versão brasileira e atualizada do emblemático caso Dreyfus”, disse Bueno.
A menção ao episódio histórico também foi feita por Flávio Bolsonaro, que escreveu em suas redes sociais: “Jair Bolsonaro é o novo Caso Dreyfus, um dos maiores escândalos de erro judiciário no mundo”. O senador acrescentou que “a História vai colocar os perseguidores em seu devido lugar”.
Em tom de ameaça, defesa de Bolsonaro tenta deslegitimar a Justiça. Diz que a acusação é política e chega ao absurdo de comparar o processo ao caso Dreyfus. Advogado insinua que a lei não deve ser a mesma para todos.
GOLPE NUNCA MAIS
HUGO MOTTA SEM ANISTIA
BOLSONARO CONDENADO JÁ pic.twitter.com/PonYJL1CwH— FINCØ (@finc0) September 3, 2025
O caso Dreyfus ocorreu em 1894, quando o capitão Alfred Dreyfus foi condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, acusado de repassar informações aos alemães. Judeu, ele foi vítima de um tribunal militar que atuou a portas fechadas e se tornou símbolo do antissemitismo crescente na França.
Durante 12 anos, familiares e apoiadores trabalharam para provar sua inocência. Investigações paralelas apontaram que as provas contra Dreyfus eram falsas e revelaram o verdadeiro culpado: o comandante Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy.
A defesa ganhou força quando o escritor Émile Zola publicou, em 1898, a carta aberta “J’accuse!”, denunciando a condenação injusta e o antissemitismo dentro das Forças Armadas. O artigo mobilizou intelectuais, jornalistas e artistas, mas também dividiu profundamente a sociedade francesa.
Em 1906, a Suprema Corte francesa inocentou Dreyfus, que foi reintegrado ao exército e recebeu a Legião de Honra. Ainda assim, o episódio abalou a confiança dos franceses nas instituições e marcou a história política do país.