O que impede a Índia de se tornar uma superpotência

Atualizado em 6 de fevereiro de 2013 às 20:36

Os políticos indianos pensam na próxima eleição, e não na próxima geração: este o drama.

Superpopulação é um dos dramas indianos

Fui à Coréia do Sul recentemente como parte de um programa de intercâmbio jornalístico entre a Índia e a Coréia do Sul. Várias vezes me perguntaram: “Por que a Índia não consegue realizar seu grande potencial?” Eu dei uma resposta brutalmente honesta. A principal razão pela qual a Índia não avança na velocidade em que deveria é a destrutiva corrupção que existe no governo e no funcionalismo público indiano, mas o povo também deve ser responsabilizado por ter permitido que isso acontecesse.

O drama da Índia são seus políticos interesseiros e egoístas. Ficou para trás a era de grandes líderes como Gandhi, Nehru e Sardar Patel, que viviam com simplicidade e com honradez. É impossível encontrar qualquer partido político na Índia de hoje que não tenha líderes corruptos. Dezenas de políticos estão enfrentando processos por corrupção, e eles pertencem aos mais diversos partidos.

O drama da liderança política inepta acaba pesando duplamente sobre o homem da rua, uma vez que  está intrinsecamente associado com a corrupção. O homem comum da Índia ganharia muito se três coisas simples fossem proporcionadas pelos dirigentes indianos: transparência e eficiência nos serviços públicos, honestidade na polícia e uma justiça que decidisse casos em semanas ou meses, não décadas. Mas quase nada tem sido feito a respeito disso pelos dirigentes indianos.

Também disse a meus interlocutores coreanos  que uma economia voltada para as exportações, como a dele —  que não é forte em riquezas naturais e que tem  um décimo do tamanho da economia da Índia — só conseguiu eliminar a pobreza e alcançar o pleno desenvolvimento porque tem uma classe dirigente bem qualificada e uma sociedade consciente.

As comparações entre a Índia e a Coréia do Sul são chocantes. A Índia se tornou independente em 1947, enquanto a Coréia do Sul emergiu um ano depois. Até a década de sessenta, a Coréia do Sul sobreviveu de ajuda externa, e muitas nações africanas eram mais ricas. Hoje, a Coréia do Sul tem uma economia de um trilhão de dólares para seus cinquenta milhões de habitantes, enquanto a Índia tem uma economia da mesma dimensão para seu 1,2 bilhão de habitantes.

Ainda assim, a Índia moderna é um milagre. O maior desses milagres é que ela tenha sobrevivido como nação depois de ter se tornado independente do Império Britânico em agosto de 1947. Estudiosos previam que a Índia se desintegraria em vinte ou trinta países. Isto não aconteceu, e as chances da desintegração agora são tão remotas como as de encontrar água no sol.

Na Antiguidade, a Índia inventou o decimal e o zero. A Índia foi a sede da primeira universidade no mundo, em 700 a.C. Depois obteve outro grande marco no terreno da educação com o estabelecimento da universidade Nalanda, no século 4 a.C.  Hoje a Índia pode se gabar de ter conseguido manter sua unidade e integridade; de sua vibrante democracia; de bem sucedidos programas como o Direito à Informação e o Direito à Educação. O Direito à Alimentação está prestes a ser lançado. O programa espacial indiano começou em 1975 com o lançamento do satélite Arya Bhatta, e avançou consideravelmente de lá para cá.

No entanto, as conquistas da Índia moderna são obscurecidas por fracassos ou desafios como corrupção, pobreza, analfabetismo, desemprego e explosão populacional. Os sonhos indianos de se tornar uma superpotência continuarão a ser apenas sonhos se aqueles obstáculos não forem rapidamente superados.

A superpotência não se materializará enquanto a Índia não for dirigida por líderes visionários. O problema é que a Índia de hoje tem políticos que pensam na próxima eleição, e não estadistas que pensam na próxima geração.

O artigo acima foi publicado originalmente no site Global Times, chinês, e reproduzido no Diário a pedido.