Do Facebook de Luis Felipe Miguel, professor da UnB, coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.
Um líder político da estatura de Lula sabe que importa não só o que se fala, mas quando e como se fala.
Sua crítica ao purismo (de parte importante) do PSOL não é desprovida de razão. O argumento de que o PT inicial não era igual ao PSOL porque tinha maior lastro social evita uma resposta direta à questão colocada, mas também não é indigno de atenção.
Mas não havia nenhum bom motivo para Lula ocupar seu tempo atacando o PSOL nesse momento. Com exceção da ala minoritária chefiada por Luciana Genro, o PSOL teve uma atitude impecável na luta contra a destituição ilegal da presidente Dilma Rousseff, colocando-se na difícil posição de defender a legalidade de um governo ao qual fazia oposição.
Na resistência ao golpe e aos retrocessos, a pequena bancada do PSOL no Congresso tem mostrado uma combatividade e uma coerência que poucos parlamentares do PT igualam.
Além disso, Lula mobiliza a denúncia do purismo psolista como álibi para a política indiscriminada de alianças, concessões, recuos e promiscuidade com setores reacionários que o PT acabou por adotar.
Como se não houvesse nada além dessas duas opções. Como se exigir autocrítica do PSOL fosse a maneira de refutar a necessidade de autocrítica do PT. Necessidade bem maior, aliás, na proporção do poder que o partido exerceu.
O que levou Lula a dirigir suas baterias a um aliado tão importante, no momento em que a luta exige tanta unidade de esforços? Talvez ele não supere o ressentimento contra os dissidentes do PT, contra a parte da esquerda que foi crítica a seus governos. Se for isso, é péssimo.
Mas a alternativa é pior ainda: talvez Lula esteja afiando o discurso “antipurista” de olho nas alianças que já planeja para o futuro próximo. Seu ataque seria, então, uma defesa preventiva.