
A operação autorizada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), para busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba revelou um ponto que rapidamente se tornou central para os investigadores. No despacho, Toffoli determinou que a Polícia Federal tivesse acesso a documentos, depoimentos, delações e inquéritos, destacando ainda a necessidade de localizar “caixas e afins — em especial a caixa de arquivo amarela relativa aos autos de 2008”.
O item, citado de forma específica, está ligado aos relatos do ex-deputado estadual Tony Garcia, cuja delação reacendeu suspeitas sobre práticas abusivas atribuídas ao então juiz Sérgio Moro e a procuradores do Paraná.
Segundo Daniela Lima, do Uol, pessoas próximas à investigação apontam que Garcia descreveu essa caixa amarela como o repositório de gravações e escutas ambientais realizadas por ele a mando de integrantes da força-tarefa.
O ex-deputado afirma que o material contém registros de conversas com autoridades do Judiciário e do Tribunal de Contas do Paraná, incluindo conteúdos de foro íntimo. Ele relata ter produzido esses arquivos após firmar um acordo de delação premiada com Moro, em 2006, quando foi preso por suspeita de participação em um esquema envolvendo o Consórcio Garibaldi.
De acordo com seu depoimento, o acordo exigia que ele colaborasse com “missões” determinadas pelos investigadores, entre elas colher informações sobre viagens recreativas de magistrados, orientar a instalação de escutas ambientais e infiltrar um policial federal em seu próprio escritório.
Todas essas atividades estavam formalmente registradas e seguiram sob sigilo por quase duas décadas, até que Garcia conseguiu levar ao Supremo sua denúncia contra o que descreve como abusos cometidos por Moro e integrantes do Ministério Público Federal que depois atuaram na Lava Jato.

A revelação da existência da caixa amarela, acompanhada da ordem de Toffoli para que o material seja finalmente examinado, tornou-se um dos elementos mais sensíveis da nova linha investigativa. Para os agentes, recuperar esse conjunto de arquivos pode esclarecer a extensão das supostas práticas irregulares atribuídas ao grupo de Curitiba.
Segundo Daniela Lima, Sergio Moro tentou desmentir o teor dos depoimentos. “A defesa do senador Sergio Moro não teve acesso aos autos do inquérito, instaurado com base em um relato fantasioso de Tony Garcia. Não houve qualquer irregularidade no processo de quase 20 anos atrás que levou à condenação de Tony Garcia por ter se apropriado de recursos de consorciados do Consórcio Garibaldi”, afirmou ao UOL.
Moro também disse que o caso não deveria tramitar no Supremo, “como o próprio PGR afirmou”, e declarou não ter receio da apuração: “O senador não tem qualquer preocupação com o amplo acesso pelo STF aos processos que atuou como juiz. Essas diligências apenas confirmarão que os relatos de Tony Garcia são mentirosos”.