Viralizou na internet um vídeo com desculpas a Dilma pelas vaias na estreia do Brasil na Copa.
A locução é do ator José de Abreu.
É um vídeo partidário, e isso significa que os petistas estão amando e os antipetistas detestando.
No YouTube, no momento em que escrevo este texto, havia um empate técnico entre as pessoas que aprovavam e reprovavam o vídeo.
Paixões políticas à parte, o vídeo nota e imortaliza o papel abjeto desempenhado pela mídia antes da Copa. E isso em si é um grande mérito e, mais que isso, um registro histórico.
O objetivo da mídia era, antecipadamente, atribuir a Dilma a culpa pelo que seria o fracasso monumental de organização da Copa.
Jabor aparece dizendo, com euforia fúnebre, que o mundo veria a incompetência do Brasil em fazer um torneio como a Copa.
É um paradoxo.
Jabor é dos colunistas brasileiros um dos que mais se esforçam por espalhar entre os brasileiros o célebre complexo de vira-latas consagrado por Nelson Rodrigues.
A ironia é que ele é obcecado por NR, a quem cita frequentemente e de quem chegou a filmar histórias como Toda Nudez Será Castigada.
Isso quer dizer o seguinte: Jabor lê sem entender Nelson Rodrigues. NR lutava para que os brasileiros se livrassem da viralatice. Jabor luta pelo oposto: para que cada um de nós comece a latir pelas ruas.
Como jornalista, faz tempo que me chama a atenção um fenômeno: a impunidade entre colunistas e comentaristas como Jabor e tantos outros, como o “professor” Villa ou o “economista” Constantino.
Eles podem cometer todo tipo de erro que nada lhes é cobrado.
No vídeo em questão: Jabor fala o que se comprovou ser um disparate.
Você imagina que alguém – um editor, um chefe na Globo, vá cobrá-lo?
Nas vésperas das eleições de 2012, lembro um vídeo em que o “professor” Villa dizia, com a convicção dos fanáticos: “Lula é o maior perdedor.”
Num jornalismo menos imperfeito, Villa teria sido obrigado a arcar com o preço de uma previsão tão errada.
Mas você o vê em toda mídia, como se seu prontuário fosse feito de acertos sobre acertos, e não de erros como os das eleições de 2012. (Suas primeiras impressões dos protestos de junho passado são antológicas também.)
O vídeo de desculpas a Dilma tem, repito, valor pedagógico. Os pósteros o verão e saberão, com clareza, o tipo de mídia de que era vítima a sociedade brasileira nestes dias.
Fora isso, que já não é pouco, o vídeo mostra o que todo mundo já sabe: as vaias do Itaquerão acabaram fazendo muito mais bem que mal para Dilma.