O que o massacre da África do Sul ensina ao Brasil

Atualizado em 1 de setembro de 2012 às 6:47
O massacre dos mineiros

 

Há uma piada na África do Sul que diz o seguinte: “Antes do apartheid, tínhamos uma das piores desigualdades sociais do mundo. Agora, temos a pior.”

Hahaha. Não. Estou rindo do quê?

Desigualdade dá em tumultos, inquietações, protestos, greves, conflitos – todas aquelas coisas, enfim, que sociedades harmoniosas conhecem apenas de nome.

É dentro deste quadro que se encaixa a tragédia dos mineiros em greve da empresa sul-africana Lonmin, a terceira maior produtora de platina do mundo.

Numa das imagens mais perturbadoras dos últimos anos, câmaras captaram o fuzilamento de que eles foram alvo pela polícia sul-africana chamada para desfazer uma manifestação de protesto em Maricana, onde está a sede da Lonmin. Mais de trinta deles morreram.

Ao horror inicial se somariam, depois, dois outros.

Primeiro, testemunhas presentes ao massacre afirmaram que muitos grevistas foram mortos pelas costas, ao contrário do relato de defesa própria da polícia sul-africana.

Depois, no que foi uma das decisões mais estapafúrdias da história da África do Sul, a procuradoria colocou em 260 outros grevistas presos a culpa pelas mortes.

Isso foi ontem, e compreensivelmente ondas de perplexidade se espalharam pelo mundo. O governo do presidente Jacob Zuma pode estar com os dias contados. Corre na mídia sul-africana que Zuma gastou alguns milhões na reforma de sua casa de campo.

Há uma estatística econômica que mede a desigualdade nos países. Ela se chama ‘Coeficiente Gini’. Até há alguns anos, o Brasil e a África do Sul tinham uma situação de iniquidade parecida: calamitosa, numa palavra.

Nos últimos anos, o Brasil progrediu, ao contrário da África do Sul. É uma das razões pelas quais o país não tem enfrentado tumultos sociais hoje tão comuns mesmo em países ricos – mas com crescente concentração de renda — como a Inglaterra. Todos se lembram dos famosos riots de Londres, há pouco mais de um ano.

Se as coisas tivessem permanecido como eram, os brasileiros estariam vivendo um inferno nas ruas. É importante ter isso na mente.

A paciência do povo tem limites. Os ricos franceses achavam que não, até um rei e uma rainha terminarem sem cabeça.

O mundo político brasileiro – a despeito dos nomes dos partidos – tem que colocar no topo do topo das prioridades o combate à desigualdade social. O mesmo vale para a mídia, que parece não ter ainda entendido isso — e se dedica a nhenhenhéns intermináveis em cima de coisas irrelevantes.

Ou viveremos pesadelos como este dos mineradores da África do Sul.