O que será do Brasil? Já é hora de começar a pensar no pós-Bolsonaro. Por Ricardo Kotscho

Atualizado em 24 de setembro de 2019 às 7:20
O presidente Jair Bolsonaro Foto: Evaristo Sá / AFP

PUBLICADO NO BALAIO DO KOTSCHO

POR RICARDO KOTSCHO

Mais dia, menos dia, esse desgoverno assassino acaba.

E depois? O que será do Brasil?

Quase todo mundo já percebeu que o governo já não reúne a menor condição política, econômica, social, moral e mental de conduzir o país até 2022.

Está na hora de começarmos a pensar em como organizar o país sobre os escombros do período Bolsonaro.

Muita gente já está fazendo isso nos diferentes movimentos sociais da sociedade civil, que volta a se mobilizar em defesa da democracia.

Por enquanto, as pessoas ainda estão promovendo atos e reuniões em ambientes fechados, com quase nenhuma visibilidade na mídia, mas a resistência ao arbítrio existe e começa a ganhar forma sob o comando de entidades como a OAB, a CNBB, a UNE e a ABI, com a participação de trabalhadores, estudantes, acadêmicos, juristas, jornalistas, defensores dos direitos humanos.

Bastaram menos de nove meses para o capitão expulso do Exército colocar em prática o que havia prometido: destruir os alicerces democráticos do país para “combater o comunismo” e depois começar tudo de novo.

Ninguém mais tem o direito de ficar indiferente a tragédias como o assassinato da menina Ágatha, de 8 anos, durante mais uma operação policial no Rio contra a população pobre das comunidades, cujas vidas estão ameaçadas pela insanidade do governador Wilson Witzel, sob a complacência do presidente Jair Bolsonaro e do seu ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Não satisfeitos com a violência oficializada, que mata civis e policiais militares como num estande de tiro ao alvo, o trio da necro-política queria aprovar um pacote anticrime criminoso para liberar de vez a matança.

Com a Amazônia ainda ardendo em chamas e a morte de Ágatha chocando o mundo civilizado, o governo brasileiro inicia hoje uma campanha publicitária no exterior para “limpar a imagem” do país, ao custo de R$ 40 milhões, no momento em que Bolsonaro desembarca em Nova York para a Assembléia Geral das Nações Unidas.

Pouco importa o que ele vá dizer. Ninguém lá fora acredita mais no que ele fala. Poderia ter economizado o dinheiro da viagem.

Representações diplomáticas do país no exterior têm sido atacadas em protestos contra o governo, que se tornou uma ameaça a toda a a humanidade (ver matéria de Jamil Chade no UOL).

Grandes empresas da Europa estão deixando de comprar produtos brasileiros, turistas fogem do Brasil como dos países em guerra, e não se vê uma única iniciativa do Congresso e do Supremo para dar um basta à escalada de agressões e ameaças contra a população indefesa e o Estado Democrático der Direito.

Diante do desastre anunciado, os generais se recolheram à sua insignificância porque o capitão não ouve mais ninguém, na sua alucinada guerra contra o mundo.

Sem dinheiro para nada, Bolsonaro abre os cofres para fazer mais agrados aos militares, como aconteceu ainda na semana passada, em que aumentou a despesa com as Forças Armadas para o próximo ano em R$ 4,8 bilhões, com novos penduricalhos para os fardados.

Com os partidos destroçados pela onda bolsonarista e suas milícias digitais, só resta à população se reorganizar pela base até chegar o momento de voltar às ruas num grande movimento de salvação nacional.

É essa a tarefa que nos cabe agora, antes que seja tarde demais.

Se cada um cuidar só do seu quadrado na tentativa de sobreviver, em breve não teremos mais país para defender.

O sorriso da garota Ágatha ficará marcado em mim para sempre como símbolo de um país que chegou ao ponto mais vergonhoso de degradação humana.

O desespero da mãe dela na hora do enterro, agarrada à boneca da filha, na foto da primeira página da Folha desta segunda-feira, me lembrou a imagem célebre daquele chinês que se colocou diante dos tanques do exército como último recurso para defender sua dignidade.

Não basta chorar, se indignar, xingar os carrascos, protestar nas redes sociais.

É hora de nos unirmos novamente, como fizemos em outros momentos dramáticos da vida nacional, em que nossa sobrevivência como nação independente esteve ameaçada pela tirania.

Tarda, mas ainda é tempo.

Vida que segue.